São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995 |
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Beatles: antes tarde, mas não tanto
DALMO MAGNO DEFENSOR
Sean, filho do casal, só descobriu que seu pai era um famoso ex-Beatle quando assistiu "Yellow Submarine" na TV do vizinho. A série "Anthology", exibida pela Globo, também poderia ter se prestado ao nobre papel de apresentar os Beatles a crianças, e também a adolescentes e jovens adultos. Infelizmente, ou imperdoavelmente, nenhum capítulo foi exibido antes de 23h, sendo que, o quarto, começou na madrugada. Houvesse motivo justo, vá lá; mas os Beatles foram precedidos de uma minissérie chinfrim chamada "Flair", que deveria ser "Fair" ("Feira", de clichês e bobagens), e cujo maior atrativo, uma estonteante junkie ruiva, nem sequer viveu até o último capítulo. Para quem não viu a série dos Beatles por não poder renunciar ao sono, seria um consolo saber que não perdeu grande coisa -se fosse verdade. A série é ótima: além de ricamente documentada, tem vários momentos emocionantes, em especial no último capítulo. Ringo conta que quis deixar a banda, em 68, por sentir-se tocando mal e desentrosado com os outros. Sorrindo, fala dos telegramas recebidos de John, dizendo que ele era o melhor baterista do rock, e pedindo que "voltasse para casa". Quando retornou ao estúdio, encontrou-o entulhado de flores encomendadas por George. Paul revela que fez "Hey Jude" para Julian Lennon, que estava chateado com o divórcio dos pais John e Cynthia. Paul foi mostrar a canção a John e Yoko, e, chegando ao verso "the movement you need is on your shoulder", do qual não gostava, avisou John que iria mudá-lo. Para sua surpresa, John disse que não devia fazê-lo, pois era o melhor verso da canção; Paul o manteve. Há cenas da temporada dos Beatles em Rishikesh, na Índia, aonde foram meditar, conversar com o guru Maharishi Yogi e ouvir suas palestras. Entre as acompanhantes está (não identificada) Prudence Farrow, irmão de Mia, a atriz, e inspiradora de "Dear Prudence", de John Lennon. Um dia, conta Paul, surgiu uma vaga para um passeio de helicóptero com o Maharishi, e John fez de tudo para ser escolhido. À volta, perguntado por Paul por que estava tão ansioso para ir, John disse ironicamente: "Pensei que ele fosse me revelar a resposta". A série não conta, mas John acabou concluindo que Maharishi era um charlatão, e exprimiu seu ressentimento na bela "Sexy Sadie", do Álbum Branco: "Sexy Sadie, o que você fez? / Fez todo mundo de bobo ....". Há mais, muito mais, como a performance via satélite de "All You Need is Love", que mencionei há duas semanas; curiosos retalhos de gravações de estúdio, com John e Paul às gargalhadas durante um "take de "And Your Bird Can Sing"; a imbatível versão original de "The Long and Winding Road", só com os Beatles e Billy Preston, depois "embonecada" com orquestra e coral (à revelia de Paul) pelo produtor Phil Spector. Uma curiosidade, para beatlemaníacos que gravaram a série: "Lady Madonna" é fundo musical para cenas dos quatro tocando em estúdio, mas nota-se que a bagunça que estão fazendo não é compatível com a música. A certa altura, há um rápido "close" em um pedaço de papel. Acionando a pausa, resolve-se o mistério: é o manuscrito da alegre "Hey Bulldog", que termina na maior "zona" gravada pelos Beatles, com gritos, uivos, latidos e risadas histéricas. Não por acaso, é a preferida de minha filha de 8 anos. Texto Anterior: Emissoras não respeitam horários; Dublagem estraga "Fama", de Parker; Fãs pedem mais Bon Jovi Próximo Texto: Quer aparecer na TV? Faça um programa Índice |
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