São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 1995
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Zagallo desafia seu último tabu

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

A pasta com alguns dos maiores segredos do técnico Mario Jorge Zagallo é de papelão, mas não é rosa. De cor amarela, ela contém um mapa com as 11 posições da seleção brasileira pré-olímpica de futebol. Em cada posição, o nome de seis jogadores cotados para preenchê-la.
É assim, metódica e obsessivamente, que Zagallo se prepara para quebrar o último grande tabu que resta a ele e ao futebol brasileiro: a conquista de um título olímpico, inédito para o país.
Aos 64 anos, Zagallo dá a largada para a corrida olímpica no dia 7, quando embarca com 20 jogadores para a Copa de Ouro, torneio a ser disputado entre os dias 10 e 21 na Califórnia (EUA).
Será, no ano, a primeira etapa de preparação da seleção pré-olímpica. Entre 19 de fevereiro e 5 de março, ela tenta uma vaga para os Jogos de Atlanta (EUA), que serão disputados em julho e agosto.
Treinador da seleção adulta e da pré-olímpica -restrita a atletas nascidos a partir de 1º de janeiro de 1973-, Zagallo quer vencer em Atlanta e passar a se dedicar à Copa do Mundo de 98, na França.
Ele é o único homem tetracampeão mundial do planeta -venceu duas Copas (58 e 62) como jogador, uma como treinador (70) e outra como coordenador (94).
"Pode escrever que vamos ganhar a Olimpíada", diz. Foi Zagallo quem mais dirigiu a seleção brasileira -86 vezes, segundo o pesquisador Duílio Martino.
Somando as duas seleções, é provável que ele tenha em 96 mais jogos que em 95. Neste ano, o Brasil jogou 20 vezes, média de uma partida a cada 18,25 dias. Em nenhuma deixou de fazer gol.
"Workaholic" (fanático por trabalho) não-assumido -"eu só sou dedicado"-, Zagallo voou pelo menos 210 mil quilômetros neste ano, entre viagens domésticas e internacionais por causa de futebol. Ficou 74 dias fora de casa acompanhando a seleção.
Fez uma viagem a Tóquio e outra a Washington para dar cursos sobre futebol. Passou uma semana viajando em cada uma.
Na maioria dos dias úteis, foi à sede da Confederação Brasileira de Futebol, no centro do Rio, para reuniões de planejamento de jogos e de convocações.
Lá, recebeu relatórios sobre jogadores iniciantes, com idade para integrar o time pré-olímpico.
Os relatos são produzidos principalmente por Everaldo, técnico de seleções brasileiras de jovens.
Eventualmente, Zagallo escalou Everaldo ou o preparador físico Luís Carlos Prima para observar revelações em jogos distantes.
O técnico irrita-se quando lê ou ouve comentários acusando-o de pouco trabalhar, por não viajar para assistir a partidas fora do Rio.
"Prefiro perder um jogo no local e ver três na televisão", afirma. "A análise a ser feita não é tática, quando seria melhor estar no estádio, mas técnica, dos jogadores que quero observar."
Zagallo passa horas seguidas numa sala do seu apartamento, na Barra da Tijuca (zona sul do Rio), assistindo a jogos ao vivo, em vídeo e a programas esportivos.
A tela de sua televisão tem, de acordo com ele, 46 cm de largura. Zagallo vê e fala tanto de futebol que é alvo permanente de reclamações de sua mulher, Alcina.
O treinador acorda diariamente por volta das 6h30. Começa o dia lendo o noticiário esportivo nos jornais. Só dorme após assistir ao programa de Jô Soares e ver os gols da noite nos telejornais.

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