São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Genes dirigiram o desenvolvimento

DA "NEW SCIENTIST"

Eric Davidson estuda embriologia dos animais marinhos, a maioria dos quais tem um tipo de desenvolvimento chamado indireto.
Embriologia é a área de ciência que estuda o desenvolvimento do embrião desde as primeiras divisões da célula até a formações dos órgãos do organismo adulto.
A maioria dos ouriços-do-mar moluscos com duas conchas (bivalves), por exemplo, desenvolvem primeiro uma larva do tipo 1, com menos de um milímetro de comprimento.
Essa larva consiste de poucas centenas de células. Nenhuma delas se divide mais de 12 vezes, exceto umas poucas células que não tem papel no desenvolvimento larval. Os adultos, que normalmente parecem completamente diferentes da larva, se desenvolvem dessas células.
A equipe de Davidson argumenta que os primeiros organismos multicelulares lembram uma larva do tipo 1. Esses organismos, de corpo mole e extremamente delicados, provavelmente deixaram poucos traços no registro fóssil.
Os fósseis normalmente correspondem ao registro das partes duras de animais ou plantas, como ossos, carapaças, conchas etc.
Eles devem ter se reproduzido sem alcançar o estado adulto e, como as larvas tipo 1, teriam poucas células que se dividiram um número fixo de vezes.
Pesquisadores não sabem por que essa restrição no desenvolvimento evoluiu. Davidson acredita que os animais não foram capazes de se libertar disso, até que o novo grupo de células evoluiu.
Esse grupo de células pode se dividir muitas vezes mais e também pode migrar enquanto o animal se desenvolve.
Seu aparecimento deve ter permitido a evolução de um grande número de formas vistas no período da explosão cambriana.
Eles também sustentam que os grupos mais avançados, como os vertebrados e insetos (invertebrados), evitaram completamente a fase intermediária da larva do tipo 1 e começaram a se desenvolver apenas a partir dessas células.
O avanço crucial, dizem os cientistas, foi a evolução de programas genéticos que eram capazes de dirigir os complexos padrões de migração e desenvolvimento celulares.
Nos organismos modernos, esse mecanismo é controlado por uma família de genes conhecida como "genes homeóticos". Os genes, contidos em estruturas celulares chamadas cromossomos, são os responsáveis pelas características hereditárias.
Esses genes são o produto de centenas de milhares de anos de evolução, mas Davidson diz que versões rudimentares podem ter aparecido pela modificação de um pequeno número de "genes do desenvolvimento ancestrais.
"É como fazer novos tipos de circuitos com os mesmos transmissores velhos", disse. "É o circuito desenhado que conta".
Essa nova hipótese sobre a explosão cambriana está ganhando adeptos no mundo da ciência.
"Esse parece um caminho provável", disse o especialista em evolução de invertebrados Andrew Knoll, da Universidade Harvard.
A hipótese de Davidson e sua equipe pode levar os cientistas a repensar a relação evolutiva entre os principais grupos de invertebrados, como insetos e moluscos.

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