São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Governadores anunciam defesa do Sivam

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governadores de cinco Estados se comprometeram ontem a dividir com o presidente Fernando Henrique Cardoso a defesa ostensiva do governo e a barrar o que classificaram de "futricas internas".
A operação inclui a defesa do contrato com empresa norte-americana Raytheon para o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
O almoço "natalino" -com torta de queijo, bolinho de batata e contra-filé- reuniu no Palácio da Alvorada os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Rio Grande do Sul. Eles representam a maior parte do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e o comando político do PSDB, com exceção de Antônio Britto (RS), eleito pelo PMDB.
Depois de quase cinco horas de conversa, os governadores tornaram público o seguinte diagnóstico: a partir de 1996, o presidente não poderá mais ficar exposto às crises, muitas vezes atribuídas a "futricas" no governo.
Entre os planos traçados para o segundo ano de mandato, FHC vai cobrar lealdade, serenidade e obediência à hierarquia no governo, resumiu o governador Antônio Britto, ao final do encontro. "O presidente vai sacar a caneta com muita velocidade", disse o governador. "Aplique-se a caneta contra quem futrica", completou.
Pára-raios
Nos últimos meses, o presidente teria servido de pára-raios para todas as crises, avaliaram os governadores. Após fazer mea-culpa, eles decidiram assumir uma parcela do comando político do governo e acionar as bancadas dos Estados para apoiar FHC.
"O presidente não quer ficar prisioneiro nem sujeito a pressões", relatou Marcello Alencar (RJ), criticando, por tabela, os políticos do PFL. "Muitas vezes, o partido ocupa o espaço da oposição", disse.
Alencar também fez mea-culpa em nome do PSDB. "Nós nos abstivemos até aqui e não queremos mais ficar omissos", afirmou o governador.
O resultado do comportamento dos aliados políticos, segundo a avaliação feita ontem, é que o governo avançou "aos trancos e barrancos" em 1995.
Covas disse que o governo não tem o que esconder. "Não temos que defender o governo de nada. Temos é que partir para o ataque, mostrar tudo o que foi feito de bom e não foi dito", afirmou o governador paulista.
"O presidente não deve ficar falando a toda hora. Deve ter a nossa vanguarda, que diga coisas que passaremos a ter conhecimento, para assumirmos a defesa do governo", disse Marcello Alencar.
A combinação feita pelos governadores inclui uma resposta unificada ao vazamento de registros de doações eleitorais do Banco Econômico (a pasta rosa), que serviu de pretexto para a crise do PFL com o governo. "Isso é uma palhaçada, uma manipulação política", classificou Alencar.
Durante a reunião, FHC tratou de explicar detalhes das duas crises que abalaram o governo no último mês -a pasta rosa e o contrato do Sivam. Os governadores saíram do Palácio da Alvorada endossando a opinião do presidente.
"O contrato com a Raytheon é apontado como uma coisa errada, mas quem diz que está errado?", questionou Mário Covas (SP), que chegou a criticar o projeto Sivam no início da crise. O governador disse estar convencido da importância do empréstimo assegurado pelo Eximbank americano, atrelado à Raytheon, para financiar o Sivam.
FHC ofereceu aos governadores argumentos para que eles se empenhem na defesa do governo. O presidente mostrou uma pesquisa de opinião pública apontando que sua popularidade não foi afetada nas recentes crises enfrentadas pelo governo.
O governador Eduardo Azeredo (MG) endossou a avaliação com uma pesquisa de opinião. "Em Minas, a popularidade do presidente está estável", comemorou Azeredo. A pesquisa mostra que 76% da população classifica o governo como ótimo, bom ou regular.
Antes, ao chegar para o almoço, Azeredo chegou a reclamar que havia faltado ao governo articulação política, especialmente junto ao Congresso. "Faltou sim, faltou habilidade. Alguns problemas estão maiores do que são."

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