São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Governo Collor protegeu Macedo, diz pastor

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O pastor Carlos Magno de Miranda, que gravou vídeos mostrando bastidores da Igreja Universal do Reino de Deus, disse ontem à Agência Folha, em Recife, que o governo de Fernando Collor de Mello "acobertava" as ações do bispo Edir Macedo.
Carlos Magno disse que teve uma comprovação disso em 1990, quando ele e o então diretor da TV Record, Aílton Trevisan, foram a Brasília em busca de verbas publicitárias oficiais para a emissora.
"Fomos recebidos pelo secretário particular de Collor, o Cláudio Vieira. Na época, se noticiava que a Receita iria investigar as contas da Igreja. O Cláudio Vieira disse que, de manhã, havia falado com o presidente Collor, e que o presidente lhe havia dito: 'Olha, Cláudio, fala com Tuma que esse pessoal da Universal é meu"', conta Carlos Magno.
No mesmo dia, segundo Carlos Magno, ele e Trevisan encontraram-se com o hoje senador Romeu Tuma (PSL-SP), então diretor da Polícia Federal e da Receita.
"O Trevisan disse que a Universal estava de portas abertas para qualquer investigação, e aí o Tuma disse: 'Não, não, o presidente já falou que não é pra mexer com vocês"', afirmou Carlos Magno.
O pastor disse que, ontem à noite, iria reunir-se com seu advogado para tratar da divulgação de novas fitas e documentos. Segundo Carlos Magno, a Universal lhe deve cerca de R$ 150 mil relativos aos vencimentos que ele teria direito pelo seu trabalho como um dos líderes da igreja.
O pastor disse que, em 1990, foi convidado para ser o principal líder da Universal no Brasil. "Fui para São Paulo. O bispo Edir Macedo, que estava em Nova York, voltou ao Brasil com a mulher e ficou quatro meses morando comigo, orientando-me sobre como funcionava a Universal", afirmou.
"Nós estávamos numa campanha de arrecadação, e o bispo Macedo comprou um apartamento de U$ 1 milhão na Chácara Flora e, por U$ 1,2 milhão, uma mansão que pertencera ao ex-governador de São Paulo José Maria Marin. Aquilo me chocou muito", disse.
A Universal teria ainda comprado a Record usando, segundo Carlos Magno, US$ 1 milhão de um narcotraficante colombiano. Ele diz ter sido um dos pastores que viajaram à Colômbia.
"Foram quatro ou cinco casais num avião fretado da Líder Táxi Aéreo, que saiu do aeroporto do Galeão, no Rio. Fui o único que se recusou a trazer o dinheiro."
Fora da Universal, Carlos Magno fundou a Igreja do Espírito Santo de Deus, que tem apenas um templo, em Recife.
É proprietário de duas lojas de produtos importados, também na capital pernambucana. Foi candidato (derrotado) a deputado federal pelo PMDB do Ceará, em 90.

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