São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-presidente agora quer ensinar

EDIANA BALLERONI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MIAMI

O ex-presidente Fernando Collor de Mello quer ser professor. Ele está tentando dar aulas na Universidade Internacional da Flórida (FIU) e em outras universidades nos Estados Unidos.
A intenção contou com um apoio de peso no caso da FIU: George Bush, ex-presidente dos EUA, ligou para a direção da universidade, sugerindo a contratação de Collor.
As negociações com a FIU começaram em abril passado, antes mesmo de Collor mudar-se para a Flórida. Rony Curvelo, assessor de Collor, entrou em contato com a universidade e manifestou a intenção do ex-presidente.
Collor não pode ser professor nos EUA. Formado em economia em Maceió (AL), ele não possui pós-graduação -condição básica para lecionar em uma universidade norte-americana.
A FIU, contudo, encontrou um modo de contornar o problema. Collor vai atuar como palestrante-convidado no Departamento de Relações Internacionais.
Collor foi convidado a dar uma palestra aberta, na qual falaria sobre os assuntos que quisesse, mas teria de responder às perguntas de alunos e de professores.
A palestra foi marcada para 13 de outubro, mas Collor cancelou. Segundo Curvelo, "não só porque era uma sexta-feira 13, mas também porque Collor teve de viajar".
A palestra foi remarcada para 17 de novembro. Conforme a Folha apurou junto à FIU, a assessoria de Collor solicitou, então, conhecimento prévio das perguntas que seriam feitas e a lista de participantes do evento.
A universidade informou que a palestra era aberta -não havia lista, portanto- e que as perguntas seriam feitas na hora, sem qualquer tipo de censura. Também foi informado que a Associação de Estudos Brasileiros da FIU -conduzida majoritariamente por estudantes- estava colaborando na organização do evento.
Collor quis conhecer os estudantes. Uma conversa foi marcada e, conforme a Folha apurou, não correu bem. Collor não gostou das perguntas que lhe foram feitas -na sua maioria sobre os acontecimentos que levaram ao impeachment- e ele cancelou essa segunda palestra, que não foi remarcada.
Rony Curvelo nega que o segundo cancelamento tenha sido em função da conversa com os estudantes.
Curvelo disse à Folha que ele conduziu as negociações sobre a contratação de Collor e que "nunca a FIU colocou como obstáculo o fato de o ex-presidente não ter pós-graduação".
Curvelo disse que a universidade o informou sobre o telefonema de Bush, mas que jamais o ex-presidente Collor solicitou a interferência dele.
A Folha apurou que não apenas George Bush ligou para a universidade, mas também um de seus filhos, Jeb Bush.
Jeb Bush é empresário do setor imobiliário em Miami e forte candidato ao cargo de governador nas próximas eleições.
Ele disse à Folha que "nunca" ligou para a FIU e que, pelo que conhece de seu pai, duvida que ele tenha ligado.
Jeb Bush acrescentou que jamais encontrou Collor pessoalmente. "Não tenho nenhum interesse pelo Brasil ou pela política brasileira", disse Jeb Bush à Folha.

Texto Anterior: Amigos foram avisados; Collor, não
Próximo Texto: Universal tenta se desvincular de Macedo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.