São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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Tanto papo quanto pílula

JOSÉ T. THOMÉ

Como caminhamos, felizmente, para uma maior consciência de nossa cidadania, opinar sobre o que se veicula nos meios de informação é fundamental.
Nesse sentido, chamo a atenção para a matéria desta coluna, publicada com o título "Papo ou pílula?.
Como médico-psiquiatra e psicoterapeuta, fiquei preocupado com o fato de o artigo colocar-se como o caminho da absoluta verdade da psiquiatria moderna.
A matéria fala sobre o ramo biológico da moderna psiquiatria. Sabemos que, neste final de século, os avanços tecnológicos da medicina beneficiaram em muito a psiquiatria, com novos descobrimentos de antigas doenças.
O cérebro passa a ter uma grande responsabilidade nesses distúrbios.
A minha preocupação é a de esclarecer os leitores que, da forma como foi colocada a matéria, mantêm-se um dos mais infelizes momentos da psiquiatria deste século: o da divisão entre os psiquiatras de orientação dinâmica (que levam em consideração os conflitos inconscientes como causas das doenças) e os psiquiatras biológicos.
Explicitamente encontra-se o antigo dilema: mente-corpo, portanto, mente-cérebro. A doença estaria na mente ou no cérebro? Deve o tratamento ser psicoterápico ou biológico através das pílulas.
Gostaria de esclarecer à opinião pública que não se trata da situação "ou isto ou aquilo, mas sim de "tanto-quanto.
A psiquiatria deste final de século e do futuro já deixou de ser reducionista. Digo que tanto o psiquiatra biológico que negligencia o âmbito psicológico, quanto o psiquiatra dinâmico que negligencia os aspectos biológicos, necessitam de uma atualização profissional.
Reduzir o trabalho psicoterápico a um simples e bom papo, é ignorar um século de conhecimentos científicos, hoje integrados como formas de tratamentos da psiquiatria moderna.
Terminando eu diria: papo é bom, os amigos que o digam. O tratamento psicoterápico não é papo: é uma intervenção clínica que exige um profissional formado e preparado para tal.

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