São Paulo, sexta-feira, 29 de dezembro de 1995
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Cineasta lança novo longa

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A intensa atividade como curador não afastou Peter Greenaway do cinema. O diretor "O Bebê de Macon" acaba de participar do filme coletivo "Lumière e Companhia", para o qual rodou um curta de 50 segundos com uma câmera original da aurora do cinema. Greenaway prepara-se ainda para lançar seu novo longa-metragem, "The Pillow Book" (O Diário de Cabeceira, em tradução não literal), cuja versão provisória foi apresentada em setembro no festival de Veneza.
A impressão inicial é que o novo filme dá sequência sem grandes novidades à obra greenawayana. A experiência com edição eletrônica por computador de "A Última Tempestade" (Prospero's Books) é aqui aplicada a uma trama lítero-erótica à moda "O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e Seu Amante".
A multiplicidade de telas simultâneas de textos e imagens não mais se compõe em camadas como num palimpsesto audiovisual, mas sim em séries de janelas de diversos tamanhos e formatos. A leitura ganha nitidez sem perder impacto. Adaptando um texto quase milenar da literatura japonesa, Greenaway desenvolve a original estratégia de sua versão para "A Tempestade" de Shakespeare. O texto escrito na tela ilustra mais do que comenta a dramatização do livro. A diferença é que aqui Greenaway amplia a liberdade de sua adaptação, transferindo a história para a atualidade e usando o livro como referência interna desta trama contemporânea.
O texto clássico é o diário fragmentado de uma servente da realeza nipônica. Greenaway o verteu para o diário de uma jovem que ascende socialmente trabalhando nos bastidores do mundo da moda. Seu grande sonho é tornar-se escritora como o pai. Precisa dominar a arte japonesa da caligrafia. Para tanto, oferece a pele de seu corpo como rascunho vivo. Ultrapassada a primeira etapa, escreve os treze livros de sua primeira obra nos corpos de diversos amantes e voluntários. "A metáfora central é o corpo como livro e o livro como corpo", frisou Greenaway.
A divisão do diário original em listas (coisas que encantam, que irritam etc.) não poderia ser mais greenawayana. O filme a desenvolve, estruturando a panorâmica sobre 28 anos de vida da protagonista a partir de uma lista de namorados e situações centrais. O próprio livro escrito por ela encadeia treze características essenciais de um amante (mistério, paixão, etc.). Ao fim, apesar da estrutura episódica e não-cronológica, "The Pillow Book" combina com raro sucesso fluência e experimentação. Talvez seja esse o principal progresso do novo Greenaway.
(AL)

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