São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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Num domingo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Há dois dias o despachante me ligou. Providenciava o licenciamento do meu carro. Falou que eu tinha uma multa para pagar.
Prático, como qualquer brasileiro, perguntei quanto teria de desembolsar antes de saber o motivo: "R$ 37".
Bem, até que não é uma paulada, pensei. Perguntei o motivo. "Você não estava com as duas mãos no volante". Como?
Pois um zeloso homem do trânsito percebeu que eu não portava minhas duas mãos na direção, a 120 graus uma da outra, como manda a lei.
Os dados da ocorrência me dão certeza do que eu estava fazendo ao incorrer em tal falta.
Além da direção, me dividia entre um celular, dois rádios e uma TV de bolso: era um domingo, 26 de março, e faltavam cinco horas para a largada do GP do Brasil de F-1, a prova que abriu a temporada deste ano.
Já o guarda foi mais atento e não dividiu sua atenção ao meu carro com as outras centenas de veículos e milhares de pessoas que tentavam entrar no autódromo José Carlos Pace.
Antes que me perguntem, não vou recorrer pois, afinal, estava errado. Mas o episódio demonstra, mais uma vez, a falta de acuidade de nossas instituições.
De qualquer forma, a multa me fez lembrar daquela corrida, que não foi das melhores.
O óbvio aconteceu na pista. E fora dela, na confusão da gasolina -a categoria não tinha ainda encontrado o equilíbrio político perdido no ano anterior.
A celeuma em torno de Barrichello, que negava ser o sucessor de Senna, mas pintou metade de seu capacete de amarelo, acabou tendo um resultado triste, mas, de certa forma, também esperado.
Schumacher venceu, Hill escapou da pista, a temporada estava desenhada. Mas ninguém é louco de declarar favoritos depois de apenas uma corrida.
A temporada prosseguiu e lá pela metade simplesmente parou. A negociação do alemão com a Ferrari pareceu, por vezes, mais importante que o próprio campeonato que era disputado.
Competente, porém, Schumacher correu contra ele mesmo, em Spa e em Nurburgring, e garantiu a emoção que Hill não conseguiu produzir.
Sem dúvida, a temporada foi do alemão, que viu seu salário subir para US$ 100 mil. Diários.
O próximo ano? Promete mais do que esse. A todos, e ao guarda, uma boa temporada.

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