São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Deputado 'gazeteiro' abandona o mandato

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tratado como "menino de escola que, ao faltar à aula, perde a mesada", o deputado Francisco Diógenes (PFL-AC), 55, abandonou a vida parlamentar no último dia 4 e o título de segundo mais faltoso no Congresso. Assumiu o cargo vitalício de conselheiro do Tribunal de Contas do Acre.
Devido às faltas não-justificadas, seu salário era reduzido todos os meses a cerca de 15% do total. Recebia, em média, R$ 600. Levantamento publicado pela Folha, em julho, constatou que Diógenes só foi superado pelo deputado Zé Gomes da Rocha (PSD-GO).
Ele justifica as faltas dizendo ter estado ausente "a negócios". Diógenes também afirma ter viajado muito para o exterior e participado de comitivas parlamentares que visitaram cidades pelo país.
No tribunal, a vida do ex-deputado vai ficar ainda mais fácil. Vai receber um salário líquido de R$ 6.500 e trabalhar apenas um expediente, o que vai lhe render tempo livre para tocar negócios pessoais em Rio Branco (AC).
"Deputado é hoje assalariado e é punido se falta um dia. O plenário é o jardim do Parlamento: serve para discursar", disse.
Empresário do ramo de automóveis, ele é proprietário de uma revendedora Volkswagen, uma locadora de carros e uma agropecuária.
"Meu problema no Congresso nunca foi salário. Somos responsáveis por todas as mazelas que acontecem no país", diz. "Nunca dependi desse dinheiro para viver. Só o condomínio do apartamento que tenho na Barra, no Rio, custa R$ 1.000", afirma.
Eleito para a Câmara pela terceira vez, Diógenes teve 5.620 votos. Ele diz não temer a decepção de seus eleitores por sua renúncia. "Eles são professores e empresários. Entendem bem a minha atitude", afirma.
Sua função será fiscalizar as contas públicas de repartições e autarquias no Tribunal de Contas do Acre. Ele foi integrante da comissão de Orçamento da Câmara por duas legislaturas.
Apesar de estar constantemente fora de Brasília, Diógenes tem planos de voltar a morar em Brasília quando se aposentar. "Antes eu passava a semana lá e o final de semana no Acre. Agora, faço o contrário. Brasília, só para passear ou na aposentadoria."

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