São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Inflação pequena eleva juros e faz crescer a dívida interna

FERNANDO RODRIGUES; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem só o sucesso marca o primeiro ano de FHC na Presidência. A inflação baixa deixou uma conta a ser paga: a dívida interna gerada pela política de juros extorsivos.
A inflação encaixa-se folgadamente no primeiro lugar no ranking de vitórias de FHC. Caiu para o patamar dos 20% ao ano.
Essa queda da inflação produz recordes sucessivos. O Índice Geral de Preços (IGP), da Fundação Getúlio Vargas, termina 95 com a sua menor taxa desde 1973.
Mas é importante relativizar a chegada da inflação ao patamar dos 20% -um pouco mais, um pouco menos. Há duas formas de analisar esse indicador de FHC.
Primeiro, que é impressionante o governo ter conseguido, sem congelamento de preços, reduzir tanto as taxas de inflação.
Segundo, que a inflação brasileira ainda é um índice alto se comparado aos padrões internacionais, sempre entre 0 e 2% ou 3%.
Mas FHC sepultou este ano o velho jargão que professava "a Argentina é o Brasil amanhã".
Basta comparar os 12 meses de 95 com igual período do Plano Cavallo, na Argentina. No país vizinho, o programa econômico foi mais ortodoxo. O câmbio foi congelado em 1 peso para US$ 1.
Ainda assim, do 7º ao 18º mês do Plano Cavallo, a inflação acumulada na Argentina foi de 28,5%. No Brasil, do 7º ao 18º mês do Plano Real (exatamente o primeiro ano de FHC na Presidência), alguns índices, como o IGP, registraram inflação de apenas 16%.
Na área de números problemáticos, FHC coletou dois principais: os juros estratosféricos e a deterioração das contas públicas.
O juro atraiu o investidor estrangeiro e as reservas internacionais, depois de despencarem com a crise do México e com a mudança desastrosa da política cambial em março de 95, fecham o ano na casa dos US$ 50 bilhões.
Mas, ao mesmo tempo, o juro pintou de vermelho balanços, fez a legião de desempregados superar um milhão de pessoas na Grande São Paulo e a inadimplência explodir.
Os juros pagos pelo governo para quem comprasse os seus papéis em 95 chegou a ser de até 60% reais ao ano -um recorde. No final, em dezembro, a taxa havia recuado para 27% ao ano.
A consequência mais imediata do juro alto foi a disparada da dívida mobiliária, aquela que expressa o valor dos títulos do governo em poder do público.
Em janeiro de 95, a dívida mobiliária do Brasil era de R$ 47,1 bilhões. Em novembro, último número oficial disponível, havia pulado para R$ 84,1 bilhões -um aumento de 78,56%.
Segundo o ex-ministro e hoje deputado federal Delfim Neto (PPB-RJ), o governo errou muito ao manter as taxas de juros altas. "Isso acaba com a agricultura e com as empresas do país."
Para Delfim, o governo nunca deveria ter entrado nessa estratégia de oferecer juros altos. Agora, diz, terá dificuldades em quebrar o ciclo quase vicioso.
Para o ex-ministro Mário Henrique Simonsen, o resumo de 1995 é que o governo foi muito bem-sucedido no combate à inflação e muito malsucedido no ajuste fiscal.
Como consequência, afirma, o governo foi obrigado a praticar taxas de juros muito elevadas.
Simonsen acredita que um juro mais baixo teria conseguido equilibrar o balanço de pagamentos, o que se tornou essencial depois da crise do México.
Mas uma taxa de juros mais baixa teria produzido uma inflação maior.
Para ele, porém, o governo praticou juros muito elevados não só por conta do balanço de pagamentos -que estava impactado pelo crescimento de 10% da economia no primeiro trimestre. "O fundamental foi a situação das contas públicas."

Texto Anterior: Caem exportações de calçados
Próximo Texto: PRINCIPAIS MOMENTOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.