São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Tapete vermelho dá lugar a chão batido

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em apenas um ano, Fernando Henrique Cardoso conheceu os dois lados do poder. Nos primeiros meses, pisou o tapete vermelho da consagração unânime. Hoje, caminha sobre o chão batido do dia-a-dia de qualquer governo.
O cotidiano desses últimos dias de 95 pôs em xeque o estilo pessoal do presidente. A imagem de José Sarney era associada à hesitação. A de Fernando Collor estava atada à idéia de prepotência. A de Itamar Franco, à trapalhada. O vocábulo que melhor se encaixa ao perfil de FHC é suavidade.
O ritmo suave do presidente foi visto, em princípio, como algo positivo. Exaltavam-lhe o espírito democrático e o tom conciliador. Hoje, seus próprios aliados enxergam defeito onde só se via virtude.
"O que falta ao governo é autoridade", afirma o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). Seu pai, o senador Antônio Carlos Magalhães (PSDB-BA), bate no mesmo diapasão: "Se ele não controla o governo, como pode querer controlar sua base no Congresso?"
As farpas do PFL grudaram na imagem do presidente a pecha de frouxo. Auxiliares de FHC enxergam, porém, um certo veneno na ponta dos dardos. Ao PFL interessaria enfraquecer o presidente para aumentar seu poder de influência.
Diz-se ainda no Planalto que é a conjuntura que faz o rótulo. No meio do ano, FHC endureceu com os petroleiros em greve. Deu de ombros para a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e não cedeu um milímetro à corporação da Petrobrás. Chamaram-no firme.
Também agora a tese da frouxidão está diretamente associada à conjuntura. E, como tal, seria passageira. Deve-se principalmente à facilidade com que informações confidenciais escorregaram de escaninhos do governo para as páginas de revistas e jornais. Primeiro, o grampo do Sivam. Depois, a pasta cor-de-rosa.
Contribui para a deformação da imagem de FHC a sensação de que, informado com antecedência dos problemas, demorou a agir. Firmou-se a impressão de que, para evitar desgastes à sua administração, é capaz de sentar sobre informações comprometedoras.
Um outro dado ajudou a compor o perfil de FHC neste primeiro ano. Ele demonstrou certo pendor para a centralização administrativa, que atrai para o Palácio do Planalto o que há de bom no governo. Maior trunfo, a manutenção do Plano Real não é atribuída a Pedro Malan (Fazenda), mas a FHC.
Também os problemas despencam sobre a mesa do presidente. Quando o BC interveio no Econômico, em agosto, a ira da Bahia se abateu sobre FHC e não sobre Malan. FHC emite sinais de que planeja alterar o quadro. Costuma dizer, entre quatro paredes, que um presidente precisa de anteparos. Não pode ser escudo de si mesmo.
Por isso pensou em nomear o deputado Aloysio Nunes Ferreira (PMDB-SP) para a chefia da Casa Civil ou para uma secretaria vinculada à Presidência. Dividiria com o parlamentar a coordenação política do governo. Lançado ao noticiário, o nome de Nunes Ferreira está exposto à chuva e ao sol.
FHC avalia a capacidade de resistência do deputado. Analisa ainda a hipótese de trocar, suavemente, outros auxiliares. O presidente prepara algumas alterações de rumo. Quer reforçar o lado social de seu governo, maculado pela operação-hospital montada no BC para socorrer bancos quebrados.
Em seu discurso de posse, Fernando Henrique disse: "Este é o grande desafio do Brasil neste final de século: justiça social. Será este o objetivo do meu governo". Até aqui, fez-se pouco nessa área além de distribuir cestas básicas a famílias carentes.

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