São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Previdência é o novo filão dos bancos

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Bancos e seguradoras do país começaram a competir no que esperam ser o mercado mais feliz de 96, o de fundos previdenciários abertos.
Trinta e duas empresas -Itaú, Banco de Boston, Noroeste, a Porto Seguro e a Golden Cross, entre outras- pediram autorização à Susep (Superintendência de Seguros Privados) para entrar nesta área nos últimos seis meses.
Elas estão atrás de dinheiro grosso: US$ 7 bilhões (ou US$ 35 bilhões em cinco anos) de pessoas interessadas em poupar, para a velhice ou para comprar uma casa, por exemplo.
No limite, os bancos acreditam que os fundos abertos terão, em dez anos, patrimônio igual ao dos fechados -ligados a empresas (ver quadro).
"Os fundos abertos são a boa notícia de 96", diz Antonio Lopes Cristovão, diretor-executivo da Bradesco Previdência.
A notícia boa é que, a partir de agora, quem destinar uma parcela de seu salário para um fundo de pensão não pagará Imposto de Renda sobre o dinheiro aplicado.
Antes da mudança, quem tinha um salário tributável de R$ 4.000, por exemplo, pagaria R$ 764,68 de IR sobre todos os R$ 4.000, mesmo que aplicasse parte do dinheiro em um desses fundos.
Agora, quem poupar em um fundo R$ 1.000 dos R$ 4.000, pagará IR apenas sobre R$ 3.000. Os R$ 1.000 aplicados, que antes recolhiam R$ 266 em imposto, ficaram isentos.
O poupador só vai pagar o imposto sobre o dinheiro aplicado quando for sacá-lo.
O Bradesco opera com previdência privada desde 1981. Com as novas regras do IR, transformadas em lei na semana passada, espera uma "época próspera" para eles.
Os novos fundos em nada lembram os antigos pecúlios onde o investidor era obrigado a deixar o dinheiro aplicado anos a fio -e depositar todos os meses a mesma quantia- para ter direito a rendimentos num futuro distante.
Eles podem fazer isso. Mas são flexíveis também para devolver o dinheiro a qualquer momento e para receber depósitos não-fixos.
"O cliente é quem define quanto e como quer poupar", diz Fábio de Araújo Nogueira, diretor do Banco de Boston, que lançou o Boston Futuro Programado em outubro.
Arquitetura
Este fundo em particular ainda depende de regulamentação, que pode sair em janeiro, para ter as mesmas vantagens dos abertos.
A arquitetura montada pelos bancos faz com que os fundos se assemelhem mais a uma poupança de longo prazo capaz de oferecer mais do um juro de 6% ao ano.
Os bancos têm liberdade para fazer o dinheiro render em outros lugares além da poupança, como em renda fixa e ações -o que potencializa o ganho do investidor.
Mas a maior vantagem continua sendo a isenção do IR para o dinheiro investido.
Este desconto, que nos fundos não-empresariais será feito nas declarações anuais, permitirá ao investidor poupar de imediato 15% ou 25% a mais -dependendo da faixa do Imposto de Renda.
"Com as novas regras, esperamos forte competição nessa área, especialmente de estrangeiros", diz Eduardo Bom Ângelo, diretor do Banco Real, que iniciou o "aquecimento" de seu fundo em março passado.
Dagoberto Orelhana, do Itaú, diz que está testando seu fundo no interior de São Paulo para estendê-lo a todo o país em 96. "O futuro dessa área é brilhante."

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sobre fundos de pensão à pág. 2-3

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