São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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A academia faz 80 anos

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sobre a ocorrência de uma miragem superior na vizinhança da entrada da Barra do Rio de Janeiro". Embora possa parecer um tanto excêntrico, as miragens, ou a possibilidade de elas existirem nas praias do Rio, foram objeto de estudo de um tal Menezes de Oliveira no começo do século. Mais precisamente, no ano de 1929.
O estudo foi publicado no primeiro exemplar da revista científica mais antiga do país, os "Anais da Academia Brasileira de Ciências". Embora com quase 50 anos de atraso em relação à "Science", da Academia Norte-Americana de Ciências (AAAS), de 1883, a revista foi a primeira tentativa de reunir estudos considerados os "melhores da ciência no Brasil".
Além de publicar a primeira revista científica brasileira, a Academia Brasileira de Ciências, que completa 80 anos em 1996, reunia também o que os próprios cientistas consideravam os "melhores cientistas do país".
Fundada em 3 de maio de 1916, a Academia incluía gente como Edgar Roquette Pinto (1884-1955) Adolpho Lutz (1855-1940), Carlos Chagas (1879-1934), Santos Dumont (1873-1932) e Oswaldo Cruz (1872-1917).
"O núcleo principal surgiu na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, sob a influência de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e, posteriormente, Santos Dumont", disse à Folha o Ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas.
Foi na escola Politécnica que um grupo de pesquisadores liderados por Manoel Amoroso Costa e Teodoro Ramos resolveu fundar a Academia. Eles achavam que a fundação de um centro de ciências permitiria promover o debate científico e a pesquisa no país.
Algo que a Sociedade Real britânica vinha fazendo havia 256 anos, e a Academia Francesa, havia 254 anos (leia texto ao lado).
"Havia, na Escola Politécnica daquela época, uma hegemonia da filosofia positivista", disse o coordenador de eventos da Academia, Paulo de Góes.
Naquela época, a Escola Politécnica estava confinada ao ensino, ao papel de instituição ligada à pedagogia. A escola estava mais preocupada com a teoria do que com a observação empírica.
"A história é que ela transmitia idéias científicas de outras partes", disse Góes.
Segundo ele, foi uma reação contra a produção do conhecimento nas instituições brasileiras.
Os cientistas, principalmente astrônomos, biólogos e geólogos não aceitavam a estagnação do positivismo na cultura brasileira.
Assim, o surgimento do Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro (também conhecido como Manguinhos), no começo do século, foi o detonador de uma reação ao "positivismo brasileiro", que fez o grupo se juntar e montar a Academia Brasileira.
"A revolta da escola militar contra a vacinação, por exemplo, era uma reação positivista, o que representava, de certa forma, uma deformação irracional da doutrina positivista de Augusto Comte", disse o ministro Vargas.
Segundo Leopoldo de Meis, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as primeiras reuniões se davam em salas chamadas "fechadas", na Escola Politécnica, ou no consultório de análises clínicas de Arthur Moses, dez vezes presidente da Academia.

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