São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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O grande eleitor

O presidente Fernando Henrique Cardoso chega ao final de seu primeiro ano de governo com um desempenho bastante satisfatório aos olhos da opinião pública, conforme mostra pesquisa realizada pelo Datafolha em todo o país e publicada na edição de hoje.
São 41% os brasileiros que consideram o seu governo ótimo ou bom, resultado, aliás, que sofreu poucas alterações durante o ano. Houve apenas uma queda forte entre a expectativa positiva, antes da posse, e a avaliação do desempenho pouco menos de um mês depois dela. Antes da posse, eram 70% os que esperavam um governo ótimo ou bom, mas apenas 36% aplicaram tais qualificações à gestão quando recém-iniciada.
Outra pesquisa, sobre os 18 meses do Plano Real, explica o bom resultado: a popularidade do plano mantém-se elevadíssima, a ponto de 72% dos pesquisados o apontarem como bom para o país. Porcentagem levemente menor (67%) acredita que foi pessoalmente beneficiada pelo Real.
É lógico supor que haja uma identificação entre o sucesso da estabilização e a popularidade do principal responsável por ela. De resto, está sendo assim em vários outros países que conseguiram, nos anos recentes, estabilizar suas economias. São os casos da Argentina, do Peru e da Bolívia.
Há, de toda forma, uma sombra para o presidente nesse panorama positivo. Seu desempenho, aos olhos do público, não é muito melhor que o de José Sarney, um de seus antecessores mais próximos.
FHC é melhor do que Sarney para 49% dos pesquisados, mas é pior ou igual para 43%. Trata-se de uma margem não-significativa em termos estatísticos. Essa magra diferença suscita uma questão: como podem ter avaliação parecida um presidente que fecha o ano com uma inflação em torno de 20% e outro que deixou o governo com uma inflação mensal de 80%?
Resposta mais plausível: Sarney, na memória popular, está mais associado ao Plano Cruzado, parente distante e fracassado do Real, do que à fase final de seu governo, que foi de quase total descontrole.
Se for essa a resposta correta, fica reforçada a conclusão de que, ao Sul do Equador, não se inventou ainda cabo eleitoral mais poderoso do que uma inflação baixa.

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