São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Velhos problemas

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Fernando Henrique deveria acender uma vela para o bispo. Graças a Edir Macedo, o presidente pôde respirar neste final de ano.
A imprensa mudou momentaneamente de assunto. É como se o "grampo" no Cerimonial do Planalto fosse um escândalo de bengala, como se a pasta cor-de-rosa cheirasse a naftalina.
É certo que as redações produzem velhos de nascença. Os jornais já nascem de dentadura. E fenecem antes de completar 24 horas de vida.
Mas não se imaginou que os fatos marcantes das últimas semanas pudessem, tão repentinamente, ser tratados como peças do passado. O Sivam é um tema remoto. A promiscuidade político-financeira do Econômico também.
Há um único incômodo: o escândalo dos radares e o caso da pasta rosada são como um tumor maligno. E, ainda que se evite falar sobre o câncer, ele não se transformará em gripe.
Estamos naquela fase em que o problema é localizado. Urge, portanto, que se faça a cirurgia, antes que o mal prolifere ainda mais.
Fernando Henrique não atribui importância capital aos dois episódios. Acha mesmo que eles foram artificialmente amplificados por pessoas interessadas em prejudicar o seu governo.
Talvez por isso o presidente demore tanto a agir. Espera por novas evidências. Aguarda como se esperasse Godot. É um erro.
O Sivam e a pasta rosa voltarão
às primeiras páginas logo nesses primeiros dias de janeiro. Basta que o Congresso volte a se reunir, a partir do dia 8.
O ideal seria que Fernando Henrique tivesse se antecipado, cancelando o contrato com a Raytheon e decifrando o mistério do vazamento do conteúdo da pasta.
Livre dos dois problemas, o governo começaria o ano com o terreno limpo. Os parlamentares retomariam então o debate sobre as reformas constitucionais.
O presidente agarra-se ao Sivam com insistência suicida. Com sua movimentação, abre espaço para a ação de ACM, opositor do projeto.
Quanto à pasta, ainda na China Fernando Henrique disse que apontaria o responsável pelo vazamento da pasta. Com sua inação, parece refém da direção do Banco Central.

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