São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desemprego e criminalidade

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

A criminalidade e a violência tornaram-se os mais alarmantes perigos neste país. Os dados publicados pela Folha em 16/12/95 mostram que, atualmente, o número de homicídios na Grande São Paulo é 108% mais alto do que foi há dez anos.
Hoje em dia, uma pessoa é assassinada a cada 1h11. Outra é roubada a cada 7 minutos ou furtada a cada 4 minutos. Só nos feriados de Natal morreram 93 brasileiros em desastres de automóveis.
São números espantosos. As causas da criminalidade e da violência são múltiplas. Por não ser "expert" no assunto, venho lendo o que os especialistas escrevem. Vejo que a matéria é controvertida.
Para alguns, pesa muito a aglomeração urbana e as más condições de habitação. Para outros, o crime reflete uma frouxidão policial e judicial. Há os que culpam o cinema e a televisão pela violência que disseminam. Finalmente, há os que concentram sua atenção na pobreza, desigualdade e desemprego.
É bem provável que o problema resulte de uma combinação desses fatores. Mas quase todos os pesquisadores concordam que o desemprego, o subemprego e emprego precário têm forte impacto na etiologia do crime.
No Brasil, o quadro do emprego vem se deteriorando velozmente. E não é para menos. Emprego depende de investimentos, e isso se tornou coisa rara. As estimativas de crescimento para 1996 estão entre 3% e 4%, sendo que o grosso virá do comércio e serviços, que geram empregos precários.
Os juros continuam impraticáveis para o setor privado fazer investimentos produtivos com base no crédito. As dívidas dos Estados, municípios e União explodiram e ameaçam se agravar em 1996, o que compromete as obras públicas.
Se o quadro dos investimentos é assim anêmico, pouco se pode esperar no campo do emprego. Se a abertura comercial continuar da forma descontrolada como vem se processando, o Brasil contribuirá para a geração de emprego na Ásia -e não aqui.
As multinacionais -que têm dinheiro próprio- investiram no Brasil, em 1995, cerca de US$ 3 bilhões. Isso representa apenas 1,3% dos investimentos que fizeram no resto do mundo.
Só na Ásia elas investiram quase US$ 100 bilhões. A China sozinha vai receber cerca de US$ 65 bilhões de investimentos estrangeiros.
Portanto, o Brasil entra no ano novo com tendências velhas. Muita dívida, juros altos e baixo investimento. O que esperar? É óbvio: pouco emprego, muita criminalidade e violência crescente.
Mas isso não justifica o desânimo. Se o quadro é negro trabalhando, imaginem o que será se pararmos. Portanto, só resta continuar trabalhando cada vez mais e melhor. Não são os estrangeiros e a globalização que vão nos salvar.
Tudo depende de nós. Aos parlamentares e governantes cabe a responsabilidade de desobstruir o caminho dos que desejam e precisam trabalhar.
Especificamente, refiro-me às reformas administrativa, previdenciária e tributária e aos cortes efetivos dos gastos públicos. Isso ocorrendo, podemos esperar um futuro melhor, com mais empregos e menos crime. Portanto, mãos à obra!

Texto Anterior: Já vai tarde
Próximo Texto: ANTES TARDE...; METAMORFOSE; VOCAÇÃO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.