São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Senador conhece a máquina

ARI CIPOLA

ARI CIPOLA; ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA

O senador paraibano Humberto Lucena (PMDB), 66, tem 40 anos de mandato parlamentar. Seu primeiro emprego foi no governo federal, quando ainda era estudante de direito em Recife (PE).
Lucena chegou a Brasília na sua fundação. Desde 1950, quando se candidatou pela primeira vez, perdeu uma única eleição, em 1970.
A devoção dos amigos e políticos a Lucena pode ser explicada pelo fato de ele ser um político que conhece, como poucos, a máquina federal.
É foco da convergência de pedidos que vão desde a transferência de servidores ao empenho em conseguir obras para a Paraíba.
Segundo seu irmão Haroldo, esse perfil teria sido reforçado por Tancredo Neves, quando eleito indiretamente presidente da República. "O Tancredo escolheu um político por região do país para conduzir o preenchimento dos cargos de segundo e terceiro escalões. O Humberto ficou com o Nordeste", conta o irmão.
"As bancadas estaduais enviavam os pedidos para ele e os jornais diziam que ele era quem mais cobrava cargos no país", diz Haroldo Lucena.
O empenho do senador em resolver os problemas que chegam a ele acabou trazendo denúncias de nepotismo em sua carreira. Lucena já chegou a ter 12 parentes empregados no Congresso. Hoje são três filhos e uma sobrinha.
Se o ex-presidente do Senado não é um milionário, tampouco é "pobre" como escreveu o advogado Saulo Ramos nesta Folha, ou um "sem-teto", conforme definiu a si mesmo quando investigado pela CPI do Orçamento, entre outubro de 93 e janeiro de 94.
Ocupava dois imóveis funcionais em Brasília: a casa do presidente do Senado, que deve deixar a partir de hoje, e um apartamento, a que tem direito por ser senador, emprestado a uma das filhas e para onde está para se mudar.
Como senador, recebe 15 salários de R$ 8.000,00 por ano.
Segundo sua declaração de renda de 1994, entregue ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) da Paraíba e obtida pela Agência Folha, possui um apartamento de 300 metros quadrados que ocupa todo o 21º andar do edifício Pégaso, na praia de Manaíra, um dos bairros mais valorizados de João Pessoa.
Seu patrimônio total declarado é de R$ 136 mil. O apartamento de Lucena, nunca habitado, foi comprado há 13 meses por R$ 131,5 mil, segundo declarou ao Fisco. No mesmo prédio, o construtor tem hoje à venda um apartamento idêntico por R$ 220 mil.
A cozinha já está pronta, mas o apartamento ainda não está mobiliado. Enquanto os móveis eram confeccionados sob encomenda, a um custo superior a R$ 15 mil —o valor da dívida do senador com a Gráfica do Senado—, seus amigos em Brasília faziam uma "vaquinha" para saldar essa dívida.
Lucena vai pouco à Paraíba. Costuma ter suas contas no restaurante Adega do Alfredo, seu preferido, pagas por amigos.

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