São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para EUA, crime será incontrolável em 5 anos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

"Em mais cinco anos vai ser impossível para os agentes da lei enfrentarem o crime organizado, devido à enorme riqueza que vem sendo acumulada pelos narcotraficantes."
A sinistra afirmação foi feita por Thomas Constantine, administrador da DEA, a agência norte-americana responsável pelo combate ao tráfico.
Constantine participou de mesa-redonda sobre o crime organizado, promovida pelo Fórum Econômico Mundial, que reúne anualmente, em Davos (Suíça), a maior concentração de personalidades empresariais, governamentais e acadêmicas que o mundo conhece.
Constantine explicou o porquê de sua afirmação: os lucros das máfias são tantos que "elas podem empregar os melhores advogados, corromper os agentes da lei e minar os governos por meio de campanhas de relações públicas". A única saída, disse ele, é intensificar a cooperação internacional contra o crime organizado.
Os números fornecidos por Rodrigo Pardo, chanceler da Colômbia, principal centro de produção de cocaína, avalizam as previsões de Constantine.
Pardo diz que as máfias da cocaína comercializam anualmente 800 toneladas de drogas ilegais e geram um movimento estimado entre US$ 400 e US$ 500 bilhões.
É mais ou menos o tamanho de toda a economia brasileira. Ou mais do que o orçamento de defesa dos EUA, conforme afirmou ontem o secretário-geral da Interpol (polícia internacional), Raymond Kendall.
Para enfatizar o ponto de que o combate ao crime tem que ser global, o chanceler da Colômbia dá o seguinte exemplo:
Ao sair de seu país, cada quilo de cocaína custa US$ 16 mil, mas, "ao chegar às ruas de Chicago ou Nova York, já está valendo US$ 150 mil". É o custo do risco da operação.
O chanceler acha que a Colômbia, "mais do que geradora do problema, é a vítima".
Kendall também defende a cooperação internacional intensa em consequência das dimensões do negócio.
Para ele, os grandes lucros deixados pelo narcotráfico fazem com que necessitem lavar o dinheiro, para o que usam o sistema bancário e financeiro internacional. Kendall, como Constantine, lamenta o desequilíbrio entre os recursos do narcotráfico e os que são dedicados a combatê-lo.
Uma opinião reforçada por Jules Kroll, presidente de uma empresa norte-americana dedicada à investigação de crimes praticados por empresas e funcionários públicos.
Kroll lembra que o orçamento da Interpol é de apenas US$ 30 milhões, "o valor de meros 200 kg de coca em Chicago".
O ex-premiê da Suécia, Carl Bildt, resumiu a gravidade do que chamou de "problema explosivo": "Ou dominamos o crime organizado ou ele nos dominará."

Texto Anterior: Militares mantêm chefia da operação
Próximo Texto: RIO; RIO GRANDE DO SUL; MINAS; SANTA CATARINA; DISTRITO FEDERAL; PARANÁ
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.