São Paulo, sexta-feira, 3 de fevereiro de 1995
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Pequenas produções brilham

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Se tanto se defendeu o filme de baixo orçamento, não foi para criar um maneirismo. Essa produção tem por característica não apenas a limitação de meios como a desigualdade.
É bem esse tipo de característica que "Obrigado a Matar" (Record, 13h) ilustra. Joseph H. Lewis, diretor do célebre "Gun Crazy", tem em mãos, aqui, um argumento largamente convencional: um xerife (Randolph Scott) às voltas com a bandidagem em uma pequena cidade do oeste.
O roteiro tem vários pontos fracos. Um deles, escandaloso: trata-se de uma simulação de morte em um duelo. Tem também suas audácias para a época: desde o caráter ambíguo do vilão principal até uma insinuação de adultério.
Mas o que sobrevive no filme (que não é um dos maiores do diretor) são os momentos em que, triunfando sobre as limitações da produção, Lewis impõe uma visão forte das coisas.
A insistência nisso tem um sentido: vivemos um momento paradoxal, em que a propósito de tudo, evoca-se o filme "B", fala-se de Roger Corman etc. Mas, diante de um filme qualquer, vivo, a menor fraqueza, o mínimo traço de inverossimilhança, serve para desqualificar o trabalho.
O "B" (ou o que sobrou dele) assenta-se sobre a transformação da pobreza em fator criativo. Dela surge a desigualdade: a convivência de cenas resolvidas no tapa com outras em que um talento especial traça o destino da imagem. "B", no caso, vale também para Dan O'Bannon, formidável diretor iniciante de "A Volta dos Mortos-Vivos" (Globo, 1h20) e um dos poucos cultores do horror atual que não barateiam o gênero.

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