São Paulo, sábado, 4 de fevereiro de 1995
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Discurso desagrada oposição e aliados

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu ontem, com seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, desagradar tanto os partidos de oposição quanto seus aliados.
Deputados e senadores consideraram "demagogia" a proposta de FHC de reduzir o próprio salário, dos ministros e parlamentares para diminuir o impacto do veto ao aumento do mínimo para R$ 100.
Parlamentares do PT e de partidos aliados entenderam que o presidente tentou recuperar a credibilidade perdida com a queda do índice de aprovação de seu governo registrado nas pesquisas. O Datafolha apontou a queda de 70% para 36% na popularidade de FHC.
Apenas os líderes do partido do presidente, o PSDB, na Câmara, José Aníbal (SP), e no Senado, Sérgio Machado (CE), elogiaram o discurso. "O presidente é um excelente conciliador e negociador", disse Aníbal.
"Foi um discurso de candidato e não de quem tem o poder nas mãos para exercê-lo. O presidente foi se justificar por causa das pesquisas", disse o líder do PT na Câmara, Jaques Wagner (BA).
O PT acusou o presidente de querer colocar a sociedade contra o Congresso Nacional ao transferir aos parlamentares a responsabilidade do aumento de seu salário e dos parlamentares.
"Apesar de o PT ter votado contra o aumento, a decisão dos salários foi um acordo entre o Executivo, Legislativo e Judiciário provocado pelo presidente que declarou que não era possível contratar pessoas de gabarito com os salários baixos que o governo pagava", disse Wagner.
O primeiro-secretário do Senado, Odacir Soares (PFL-RO), também contestou FHC. "De todas as reuniões que participei como líder do PFL para tratar da questão havia representante dos três Poderes. O Jobim (ministro da Justiça Nelson Jobim) participava das reuniões", afirmou Soares.
O diretor da Câmara, Aldemar Sabino, disse que o governo concordou com o projeto de reajuste dos salários antes de ser votado pelo Congresso. Sabino representava a Câmara nas reuniões da comissão dos três Poderes que fechou o acordo sobre os salários.
O deputado Paulo Paim (PT-RS) afirmou que, no discurso, o presidente quis fazer uma "chantagem" com o Congresso. "Ele quer forçar a privatização da Previdência quando condiciona o aumento do salário mínimo ao fim do reajuste dos benefícios aos aposentados", disse Paim.
Soares criticou a articulação do governo FHC. "Todo mundo sabe, há muito tempo, que o salário mínimo não aumenta a inflação. O presidente estava tão convicto que vetaria o aumento que não fez esforço para evitar sua aprovação no Congresso", afirmou.
O deputado Paulo Delgado (PT-MG) considerou o discurso de FHC de "espetáculo" com o uso da televisão. "É bom ter memória. O ex-presidente Fernando Collor abriu mão da casa oficial, dos carros oficiais e de todos os salários a que tinha direito e foi o que mais deu prejuízo a Nação", afirmou.
"Não tendo recusado antes, não deveria dizer agora. Seria oportuno se tivesse negociado com o Congresso na época da aprovação", afirmou o deputado Josaphat Marinho (BA).

Vicentinho
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, criticou o veto ao mínimo confirmado ontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Ele pisou na bola eticamente ao vetar o mínimo de R$ 100 para os trabalhadores e articular um empréstimo para o México."
Para o presidente da CUT, ao anunciar a decisão de sancionar a anistia para deputados e senadores que usaram a gráfica do Senado, "Fernando Henrique deixa claro que fez a opção pela corte e não pelo povo".
Vicentinho diz concordar apenas com a rediscussão sobre o 14º e 15º salários dos parlamentares proposta por FHC.
Para o sindicalista, Fernando Henrique tem que estabelecer discussões mais profundas sobre salários com a sociedade. "Ele tem que começar a proceder de uma outra forma", disse.

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