São Paulo, sábado, 4 de fevereiro de 1995 |
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As acrobacias do presidente
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA — Atenção para a frase de FHC: "Nem o presidente nem os ministros são acrobatas de circo para fazer piruetas, receber aplausos e desaparecer nos bastidores". Aproveitando da imagem circense, acrescentaria: "Nem o cidadão é palhaço". E, aí, está um pecado do discurso presidencial —ele escorregou e se comportou ontem exatamente como o acrobata.Primeiro os elogios. Ele defendeu como deveria defender o veto ao mínimo, assumindo o desgaste, mas, ao mesmo tempo, criticando o Congresso. Indicou como saída desvincular o mínimo do reajuste dos aposentados —outro desgaste que ele teve a coragem de assumir. Mas ele preferiu a acrobacia ao anunciar o corte em 25% de seu salário e dos demais ministros, mostrando-se vítima do Congresso. O presidente quis, aqui, ganhar aplausos e desaparecer pelos bastidores. O valor do salário do presidente foi decidido em reunião com parlamentares e representantes do governo. E Fernando Henrique Cardoso e seus ministros não reclamaram. Aceitaram doce e alegremente. Veio a pesquisa Datafolha, apavorando o Palácio do Planalto. E, para contrabalançar o veto ao mínimo, Fernando Henrique abre mão de um naco de seu salário, culpando o Congresso. O que, aliás, não vai fazer falta mesmo: todas suas despesas são pagas. Se era para fazer acrobacia tipo Fernando Collor, deveria, pelo menos, ir às últimas consequências: abriria mão de todo o salário, vivendo de sua poupança. Seria criticado do mesmo jeito, mas a economia aos cofres públicos aumentaria. Na prática, ele se comportou como o médico que não consegue fazer que seu paciente perca peso. Mas, em consolo, oferece como gesto de solidariedade deixar de comer uma cocada por mês. PS — Por falar em cocada, sobrou um cutucão no discurso a Antônio Carlos Magalhães. FHC anunciou as licitações de emissora de rádio e televisão como medida moralizadora. O troco veio a jato: "Hipocrisia", rebateu ACM. Aliás, outro tipo de acrobacia: como demonstra Sérgio Motta, num dia critica-se ACM e, antes que os jornais cheguem às bancas, pedem-se desculpas. Texto Anterior: Os jovens, como vão? Próximo Texto: VALE NADA; RETÓRICA; QUESTÃO AGRÁRIA Índice |
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