São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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Show para 80 mil no Maracanã fecha turnê

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A banda Rolling Stones fez seu último show no Brasil anteontem no estádio do Maracanã, para um público de cerca de 80 mil pessoas, segundo a produção do Hollywood Rock. Foi o maior público do grupo na turnê. Mais uma vez, a chuva esteve presente e o grupo mostrou sua competência.
Os Stones fizeram cinco apresentações no país dentro da turnê mundial "Voodoo Lounge", uma espécie de odisséia musical que já percorreu EUA e México e desembarca no próximo fim-de-semana em Buenos Aires. Um dos três palcos da excursão já está em Tóquio.
Ao longo de onze dias de estadia em São Paulo e Rio, o quarteto quase não saiu dos quartos de hotel. Ignorou a imprensa e manteve distância do público. Seus encontros aconteciam em palco.
No Brasil, quase 300 mil pessoas assistiram ao show. Em nenhum momento, os comandados do cantor Mick Jagger deixaram de exibir seu característico rock básico. O palco gigantesco e oito músicos suplementares funcionaram como suporte para os clássicos da banda, quase sempre 24. O show teve cronometragem exata, e vê-lo muitas vezes pode ser uma experiência de tédio.
O melhor show foi o de sábado, em São Paulo, tanto pelo repertório escolhido quanto pelo entrosamento com a platéia.
Nas duas noites do Maracanã, o instante mais forte ficou por conta da arquibancada, quase todo com gente pobre. Os favelados pularam e berraram "Satisfaction", hino da ansiedade consumista.
Um fato ficou claro, da primeira à última noite que os Stones passaram no Brasil: Jagger é o comandante e a força motriz do grupo.
Sua performance se mostrou sempre emocionante, ainda que precisa como um relógio. Cada gesto no show é medido por Jagger para obter um sentimento e um resultado junto ao público. Este reage como um forno microondas manipulado pelo vocalista.
A um comando seu, o público pula como pipoca, comove-se com uma balada e não pede um segundo bis. Sem ele, a banda perde força e nem os anabolizantes sonoros tipo a cantora Lisa Fischer e o baixista Darryl Jones cobrem o vazio.
No meio do show Jagger saiu de cena para descansar e provar que ele, e só ele, é os Stones. Keith Richards não anima o público por mais do que dois minutos.
Mais uma vez evidenciou-se que "Voodoo Lounge" é um show de vídeo, regido por Jagger e estrelado pelo telão Jumbotron. Este se liberta da função mimética e documental para integrar ativamente as ações do palco, complementando imagens reais com grafismos e criaturas virtuais. Jumbotron é o afresco do pop. Traz um repertório de ilusão e "mise-en-abŒme" para aplacar fiéis, como uma igreja renascentista.
Os Stones demostraram que são os sumos-sacerdotes do pop. O culto tem sua consagração no carimbó "Sympathy for the Devil", entoado por todos. No fim se dá a revelação: o demônio não existe, a não ser como "diabolus in musica". O diabo paga ingresso e vai para casa. É todos nós.
Quanto aos grupos nacionais e os Spin Doctors, os resultados foram abaixo da crítica. O Barão Vermelho se exilou nas novelas de tevê e esqueceu do rock. Os Spin Doctors fizeram shows definitivos —definitivamente despontaram para o anonimato no Brasil.
Rita Lee agradou por que o público tem pena da madrasta do rock. Ela fez de tudo para encobrir um show de baixíssima qualidade musical. Anteontem abaixou as calças para mostrar seu traseiro flácido para o Brasil. Um espetáculo lamentável.

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