São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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Soldada coleciona trotes e desaforos

DA REPORTAGEM LOCAL

A soldada Catarina Isabel Antunes Vieira, 32, trabalha no serviço 190 há 11 anos. Conta que já ouviu muito desaforo e histórias escabrosas, mas procura esquecer as chamadas que recebe.
"Saio daqui e procuro não lembrar de mais nada. Já não me lembro sequer das chamadas que atendi ontem. Se não for assim, você enlouquece", afirma Catarina.
Algumas chamadas, porém, ela não esquece.
Muitas dessas chamadas inesquecíveis foram feitas por um dos muitos "troteiros" recorrentes que vivem atormentando a vida dos atendentes. Eles ligam de orelhões para fugir do aparelho "pega-trotes" da polícia.
"Ontem mesmo ligou o homem do baby-doll (camisolinha). Ele liga perguntando se a gente está de baby-doll e depois desliga", conta a soldada.
Em outra chamada recebida recentemente perguntaram se ela conhecia o Mário. Ao responder "que Mário?", Catarina ouviu o desaforo: "aquele que te pegou atrás do armário".
Outros momentos do trabalho da soldada são tensos. "Uma vez ligou uma mulher dizendo que estava apanhando do marido. Ouvíamos ele gritando ao fundo e depois ele desligou o aparelho. Pelo número do telefone enviamos uma equipe até a casa", conta.
Catarina diz que não gosta de pessoas que se acham "de nível superior".
"Elas exigem que se mande o carro imediatamente, diz que paga meu salário com o imposto e coisas assim", afirma Catarina.
Apesar da tensão e dos desaforos, Catarina acha seu trabalho "gratificante". "É bom ajudar as pessoas. Muitas vezes elas até ligam para agradecer", afirma a soldada.

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