São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Gigante-africano rende mais que europeu

GRAZIELE DO VAL
ENVIADA ESPECIAL A PIRASSUNUNGA

O amadorismo que levou ao fiasco criações inteiras de escargot na década passada e a escassez de matrizes de qualidade para uma produção em escala regular, dois dos maiores problemas enfrentados pelos produtores brasileiros, parecem estar com os dias contados.
Dentro de um ano, matrizes de alto potencial genético do gigante-africano, uma espécie mais rústica e com taxa de reprodução cinco vezes mais alta do que a européia, estarão disponívis no mercado.
Dois pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP estão desenvolvendo um experimento com o animal em Pirassununga (SP).
Os resultados são animadores. O escargot originário da República Centro-Africana chega ao ponto de abate em 90 dias. O europeu leva até oito meses.
Além disso, ele tem alcançado um peso dez vezes maior e o custo de produção pode ser até 50% inferior.
"O gigante-africano é menos exigente em termos de alimentação. Come vários tipos de verduras, cascas de frutas e suporta bem o calor entre 30 e 35 graus centígrados", diz o engenheiro florestal Pedro Pacheco, 37, um dos autores da pesquisa.
"Com isto, ele tem um desenvolvimento muito bom. Uma matriz chega a pesar até 400 gramas e o sabor, quando o animal é abatido mais jovem, é excelente".
Outra vantagem, na opinião dele, é que o Achatina fulica (nome científico do gigante-africano) tem três posturas por ano —com até 300 ovos—, enquanto que uma matriz européia coloca, no máximo, 120 ovos.
Pacheco e Maria de Fátima Martins, especialista em melhoramento genético, estão observando os animais, catalogando informações e pesquisando alternativas de alimentação.
"Eles comem basicamente rações para coelhos ou aves, mas estamos substituindo alguns ingredientes para obter uma dieta mais balanceada em nutrientes", afirmou o professor.
Segundo ele, o preço da ração não é significativo no custo total da produção.
"No final das contas, acaba não onerando demais o produtor e nem inviabiliza a criação", diz.
Em uma segunda etapa, os dois pesquisadores pretendem realizar um trabalho de seleção genética para obter matrizes de alto potencial, que serão colocadas no mercado.
"Quando nós iniciamos esse projeto descobrimos que não havia nenhuma publicação a respeito do assunto no Brasil. Só existiam alguns estudos feitos na Europa, que tem um clima muito diferente do nosso", diz Pacheco.
Por causa da escassez de informações, diversos produtores brasileiros perderam criações inteiras, acrescenta o pesquisador.
O mesmo problema foi sentido também por Augusto Teixeira Mendonça, 24, que iniciou uma criação há três anos.
"Como não tem nada publicado sobre o assunto, é necessário buscar o maior número de informações possível em cursos e ter um cuidado redobrado com os animais", diz.
Mendonça acha que a dedicação e o reinvestimento do lucro no próprio negócio nos dois primeiros anos, na ponta do lápis, acabam compensando.
"O faturamento mensal em época de produção chega a R$ 2.000 em uma criação média", afirma.
Uma única pessoa é suficiente para cuidar de de 5.000 animais, em viveiros, e de 3.000 animais, em caixas.

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