São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Hargreaves dá receita do fisiologismo

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro Henrique Hargreaves relatou ontem à Folha a sua experiência como responsável pela distribuição de cargos de segundo e terceiro escalões nos governos José Sarney e Itamar Franco. Ele deu a receita para o atual governo executar esta tarefa.
"A receita é complicada. Tem que ser uma pessoa muito ligada ao presidente, que conheça a máquina do governo e tenha bom relacionamento com o Congresso". Ele acha impossível entregar a missão a um colegiado: "Se um é difícil, imagina quatro".
Hargreaves, que agora vai assumir a presidência da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), conta que chegava a receber 40 parlamentares por dia no governo Sarney, mas nem sempre havia pedidos de cargos: "Isso só ocorria na montagem do governo. Depois, eles queriam atenção. Eles gostam de ser ternurados" (sic).
Havia critérios para a distribuição de cargos federais, relata o ex-ministro. "Eu procurava colocar pessoal técnico, mas ligado aos nossos aliados no Congresso. Tem determinados cargos que se pode transigir. Mas outros são absolutamente técnicos".
Hargreaves afirma que seguia um dos critérios que será adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso na distribuição de cargos: a exclusão das diretorias financeiras de estatais do loteamento: "Essas nunca dei a ninguém".
O ex-ministro conta que tinha na subchefia da Casa Civil, no governo Sarney, um computador onde guardava informações sobre os cargos federias, seus ocupantes e quem os havia indicado. Mas nega que esta lista fosse usada a cada votação no Congresso.
"Tínhamos que manter o grupo de apoio, mas não havia uma distribuição em cada votação. Quem fala isso é porque não conhece o governo', afirma.
A procura por cargos tinha um motivo, diz Hargreaves: "Sempre perguntei por que eles queriam os cargos. Eles diziam que, não conseguindo cargos, demonstravam falta de prestígio. Achavam que não podiam abrir mão disso".
Os cargos mais procurados eram as delegacias regionais dos ministérios. "Eles não queriam cargos do tronco do ministério. Queriam as delegacias regionais, que ficam mais próximas dos eleitores".
Hargreaves afirma que não participou da distribuição das concessões de rádio e TV no governo Sarney. Mas concorda com o critério político usado: "O governo precisa fazer uma triagem. Senão, os grupos econômicos tomam conta com testas-de-ferro".
Hargreaves teve ainda mais poder no governo Itamar, no qual coordenava as ações do governo. "Eu não era um gerentão, como dizem. Era cordial, mas acompanhava tudo mesmo".

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