São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Baneserianos se dizem humilhados

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcados pelo "linchamento público". É assim que se sentem hoje ex-funcionários do Baneser, empresa subsidiária do Banespa que contratava mão-de-obra para o Estado sem concurso público.
Desde que o governo Covas (PSDB) decidiu extinguir a empresa, eles passaram a viver uma espécie de "Síndrome de Geni".
Na música de Chico Buarque, a prostituta Geni é o bode expiatório de todos os males, em quem todo mundo joga pedra ou cospe, em quem (diz o refrão) todo mundo "joga bosta".
Há muito ressentimento entre os baneserianos depois que viraram sinônimo de "fantasma" ou de "vagabundo".
Maria de Lourdes Zuquim, 38, ex-funcionária da Secretaria do Meio Ambiente, afirma que Covas "pôs todo mundo no mesmo saco". Agora, só pensa em apagar "isso" (o Baneser) do currículo profissional.
"Trabalhava bastante em programas de preservação da Mata Atlântica", diz ela, que defende a extinção da empresa. Com tanto estigma, Lourdes afirma até que foi "incorporando a vergonha" que virou se apresentar como ex-funcionária do Baneser.
Já Elaine Pacini, 40, ligada à Secretaria da Cultura, não pôde abrir nova conta no próprio Banespa. "Uma funcionária me disse que 'pelas novas orientações da diretoria' não podia mais abrir contas do pessoal do Baneser. Ela me disse que nem talão eu poderia ter mais." Elaine conseguiu abrir conta em outro banco.
O mesmo viveu Andreli Pinheiro, 21, contratada pela Febem. Na agência Banespa-Artur Alvim (zona leste), ouviu de uma bancária: "O problema não é a conta, é o Baneser".
Roseli Albuquerque, 24, educadora da Febem, contou que no Mappin, ao mostrar o holerite do Baneser, teve o financiamento recusado para a compra de um forno microondas.
O Mappin informou, porém, que as normas para abrir crediário são iguais para todos, independente do emprego do cliente.
Messias Souza Novaes, 23, outro funcionário na Febem, conta que, ao almoçar em um bar próximo ao trabalho, teve dificuldades para convencer o dono do estabelecimento a receber seu Ticket Restaurante, onde está impressa a palavra "Baneser".
"O cara me disse: 'Isso não vale, o Covas acabou com o Baneser.' Ele achava que não iam reembolsá-lo", lembra Novaes.
Até para quem procura novo emprego a situação é difícil. Luiz Augusto Gerolamo, 37, analista de recursos humanos da Secretaria do Bem-Estar Social, viu no jornal um anúncio fechado (sem o nome da empresa) oferecendo vaga de "analista de treinamento".
Na entrevista, quando Gerolamo falou do Baneser, o comportamento do interlocutor mudou. "Não foi nada explícito. Mas mudou a postura, deu para perceber." Ele não foi chamado para a vaga, na última quinta-feira.
Na Secretaria da Saúde, a pressão sobre baneserianos começou com cadeiras retiradas e ausência de serviço. "Vi secretárias sendo avisadas repentinamente que deveriam sair, para que outras ocupassem suas mesas", contou E.P., 28, que trabalhava com campanhas de vacinação. "Foi uma brutalidade."
Grupos de ex-funcionários estudam forma de entrar com ações por danos morais contra o governo. O problema que enfrentam, porém, é como provar o preconceito que se espalhou pelas ruas.

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