São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A cidade estratégica

TÂNIA FISCHER

A reconfiguração de poder é marca distintiva da cidade contemporânea. Em cidades tão díspares quanto Calcutá, Cartagena ou Lisboa são evidentes as transformações da cultura política local, até então e tradicionalmente polarizada entre o público e o privado, o governo e a sociedade.
Ponto de intersecção entre diferentes escalas locais, nacionais e transnacionais, a cidade é singular; com história e identidade próprias, mas plural em suas relações e manifestações.
Redes de relações mais ou menos formais estão em acelerada mutação. Novas articulações entre governo e sociedade aproximam pólos de poder opostos em ações estratégicas. Atores locais interagem com outros em países distantes em intercâmbios de novas tecnologias para gerir e viver a cidade.
O governo das cidades é confrontado pelos desafios da economia sustentada, pelo resgate da identidade local e pela promoção do desenvolvimento.
As palavras de uma nova ordem são rapidamente absorvidas. Qualidade em serviços públicos, reengenharia, novas arquiteturas organizacionais, competitividade modificam o conceito de governabilidade; que não se refere apenas ao poder de governar, mas supõe interação entre forças sociais diversas.
As fronteiras entre público e privado atenuam-se. As estratégias de desenvolvimento das cidades supõem intercâmbios, alianças e parceiras configurando-se redes que integram governo, empresas privadas, comunidade organizada em conselhos, fórum e várias ONGs.
Estes temas foram discutidos no 6º Colóquio sobre o Poder Local, que reuniu no Núcleo de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia, pesquisadores do Brasil, França e Espanha.
Especial destaque foi dado ao plano estratégico de desenvolvimento de Barcelona, replicado pela municipalidade de Lisboa, que interessa a um grande número de cidades latino-americanas, como Bogotá, Buenos Aires, Caracas e Salvador, da Bahia.
Atores públicos e privados articulam-se consensualmente nos chamados planos estratégicos, na tentativa de mudar substância e imagem da cidade, como ocorreu em Barcelona, com o desafio das Olimpíadas.
A cidade competitiva, atraente e funcional, que deve garantir um mínimo de segurança e qualidade de vida; reduzindo a exclusão social.
Uma ação estratégica de tal complexidade requer do governo local, em primeiro lugar, a reinvenção de si mesmo. O Estado-pirâmide deve dar lugar ao Estado-rede, com que se obtêm relações de poder mais equilibradas.
Se o projeto Barcelona é exportável para a América Latina em alguma medida, é uma questão a ser respondida em um futuro próximo, pelos projetos em curso.

Texto Anterior: BR-222 é a mais perigosa do Maranhão
Próximo Texto: Tia é acusada de 'vender' virgem em PE
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.