São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Cinema foi generoso com a escritora

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Patricia Highsmith detestava, de modo geral, os filmes baseados em suas obras, mas ela não tinha muito do que reclamar. Seis cineastas de prestígio deram o melhor de si levando às telas suas perversas tramas.
São eles: Alfred Hitchcock ("Pacto Sinistro", 1951), René Clément ("O Sol por Testemunha", 59), Claude Autant Lara ("Le Meurtrier", 62), Wim Wenders ("O Amigo Americano", 77), Michel Deville ("A Vítima por Testemunha", 81) e Claude Chabrol ("Le Cri du Hibou", 87).
As adaptações mais famosas são as de Hitchcock, Clément e Wenders —obras totalmente díspares, que têm em comum o clima diabólico das histórias de Highsmith.
Nos três, o crime está associado ao tema da identidade, do falso, do duplo. Nos três há a idéia de um mecanismo do destino, mais poderoso e perverso que os mecanismos criados pelos indivíduos.
Em "Pacto Sinistro", um homem propõe a um desconhecido uma troca de crimes: ele matará a mulher do outro se este matar sua mãe. A aparente "ausência de motivação" despistará a polícia.
Parece um livro encomendado por Hitch: o tema da transferência de culpa está aqui envolto em espessas brumas morais e sexuais (sobretudo no subtexto homoerótico), e o diretor o conforma numa rigorosa construção estética.
Se "Pacto Sinistro" é feito de sombras, "O Sol por Testemunha" (estréia do falsário Tom Ripley) é, desde o título, de uma claridade resplandecente: rostos jovens, iates e festas nas praias douradas da Riviera francesa.
Mas, sob essa luz ofuscante, se esconde o veneno de uma trama sórdida e infeliz: Ripley mata o jovem playboy a quem foi buscar a mando do pai, arrebata sua namorada e sua identidade. Claro que sua falsa vitória acaba mal.
O mesmo Ripley voltaria às telas em "O Amigo Americano" sensivelmente modificado por Wenders. A cumplicidade que ele forja com um artesão de Hamburgo transformado em assassino é análoga àquela que o diretor alemão buscava com o cinema americano. Ação e pensamento, arte e indústria, violência e afeto: esse casamento ideal foi o que Wenders encontrou em Highsmith.
(JGC)

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