São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Globo exibe Rolling Stones sem comentários

MARIA ESTER MARTINHO
DA REVISTA DA FOLHA

Até às 22h35 do último sábado, a cobertura global do Hollywood Rock foi idêntica ao que já se vira em outros anos: pouca informação e muita adrenalina artificial. Perdia para a MTV, a menor emissora no páreo. Mas nos 140 minutos que se seguiram, a rede fez mais. Fechou o microfone de Maurício Kubrusly (e seu dicionário de superlativos), fez os patrocinadores esperarem e transmitiu o último show brasileiro dos Rolling Stones ao vivo, na íntegra. Não tivesse nenhum outro mérito, a transmissão ainda teria esse: mostrou tudo. Sem pressa, sem interrupção, e, glória, sem comentários.
Evidente que a Globo não fez nenhum "Stop Making Sense" ao vivo. Ninguém esperava que fizesse. Mas cercou-se direito. Teve acesso às imagens captadas pelas câmeras da equipe da turnê —mais íntimas dos músicos e da ação do show—, plantou as suas próprias em ângulos variados e acompanhou, com uma câmera suspensa, a movimentação de Mick Jagger nas laterais do palco, produzindo temperatura para a transmissão.
Com tanta coisa na mão, a direção de imagens trabalhou bem a partir de "Sparks Will Fly". Até ali, tensa, perdera a entrada dos Stones (menos Jagger) em "Not Fade Away" e incorrera seguidamente no tique nervoso de voar para longe nos intervalos entre canções, deixando de registrar detalhes curiosos no palco. Uma certa falta de senso de ação continuaria causando desperdícios —em "Miss You", um solo de sax mereceu longo close, enquanto o amasso dos vocais Lisa Fischer e Bernard Fowler passava batido—, mas nada que fizesse o resultado cair do patamar do correto.
Em geral, foi daí para cima. A transmissão —que volta ao ar em versão compacta sexta-feira, depois do "Jornal da Globo"— teve ótimo índice de aproveitamento dos truques fixos do show (Keith Richard tocando teclado com o pé, Lisa lambendo Jagger, Jagger encoxando Lisa etc.), mais algumas curiosidades (como quando Jagger arrancou da boca de Ron Wood o terceiro cigarro que este tentava acender). E momentos quentes, em que a edição entrou no ritmo: "Sympathy for the Devil", "Midnight Rambler", "Street Fighting Man" e "Jumping Jack Flash".
O show ajuda, claro. Não há plano feio possível sob aquela luz. Para onde quer quer se aponte a câmera, sempre haverá assunto: o palco, os grafismos no telão, os infláveis, uma lenda viva —ou, pelo menos, Lisa Fisher de maiô.
O que não desmerece a competência da transmissão, que poderia ter tropeçado no excesso de informação visual ou transformado tudo em um festival de fusões fáceis.
Bem que tentou. Mas foi só em "Out of Tears". Nada grave.

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