São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Marriner gravou 1.400 discos

IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sir Neville Marriner gosta de projetos monumentais. Gravou a grande maioria dos 180 CDs da "Mozart Edition", a edição de homenagem da Philips ao bicentenário do compositor austríaco. Com 1400 discos, é o maestro que mais gravou na história da música, superando os 900 de Herbert von Karajan.
Talvez esta seja a única maneira de Marriner superar o maestro alemão. O fato é que, embora pelo menos em sua especialidade -Mozart e Haydn- seja superior a Karajan, Marriner não consegue ser o maior nem mesmo neste campo -em que é superado por outro sir, Colin Davis.
Ele se impõe, entretanto, pela quantidade de trabalho em estúdio. Seus discos se dividem entre inúmeros selos, como Hãnssler, Chandos, EMI e Philips. Segundo o maestro, as gravações seriam uma estratégia para manter a orquestra junta.
"Os músicos, particularmente as garotas, têm famílias jovens e não gostam de estar viajando pelo mundo todo o tempo inteiro", diz. "Gravar em Londres mantém os músicos juntos".
Motivos artísticos perdem para os técnicos na hora de refazer gravações. O próprio Marriner diz não haver grandes diferenças de interpretação entre, por exemplo, suas gravações da "Grande Missa", de Mozart: "o que acontece quando você grava uma peça duas vezes é que o sistema de gravação mudou. Na primeira vez, gravamos para LP, e, agora, para CD".
Às vezes, Marriner faz em estúdio o que prefere não fazer ao vivo. É o caso da Sinfonia nº 8 "Inacabada", de Schubert, que ele gravou acabada, em quatro movimentos. "É interessante ver o que poderia ter sido a sinfonia -mas não fazer em concerto. Isto é apenas para os arquivos", diz.
A agenda de gravações está lotada para os próximos anos. Inclui quatro óperas de Rossini e as pequenas óperas de Britten.
O tricentenário de Purcell, maior compositor inglês de todos os tempos, não poderia passar em branco. Gravou a música instrumental de suas óperas, como aberturas e balés. Não pretende se aprofundar, entretanto. Considera que o público interessado por este repertório prefere ouvi-lo com instrumentos de época.
Em 97, vai reger a Filarmônica de Viena. Um triunfo artístico inusitado para quem, em 1957, fundou a St. Martin in-the-Fields como um conjunto de cordas para tocar em igreja aos domingos.
Os fundadores da orquestra eram "refugiados" dos maestros que não queriam a opinião de ninguém mais. Tudo era discutido com o grupo.
Hoje, o espírito democrático mudou. "Quando a orquestra fica maior, a disciplina muda. O maestro tem que dirigir a performance, e não pode haver muitas idéias individuais", diz.
(IFP)

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