São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Protocolo do Rio foi imposto ao Equador

FERNANDO LARENAS
DA "ANSA", EM QUITO

Em 1942, ano seguinte à guerra entre Peru e Equador, foi assinado um estranho e controvertido acordo para pôr fim às hostilidades, ironicamente batizado de Protocolo de Amizade e Fronteiras.
Na realidade, o protocolo não tinha nada de amistoso. Mas era a única ferramenta jurídica de que o Equador dispunha na época para acabar com a ocupação peruana de suas províncias fronteiriças depois da dura e desigual guerra de 1941, na qual também perdeu 270 mil km2 de território amazônico.
Com o aval de Argentina, Brasil, Chile e EUA, o tratado foi aceito pelos dois países em conflito. Para o Equador, pelo menos, não havia alternativa. Vivia-se na época o drama da Segunda Guerra Mundial e os olhares estavam dirigidos para outras áreas do planeta.
Mais tarde, as falhas no Protocolo do Rio levaram o Equador a questionar sua validade.
O acordo consagra alguns direitos que valem ser assinalados:
"As partes poderão, não obstante, ao efetuarem o traçado sobre o terreno, outorgar-se as concessões recíprocas que considerarem convenientes a fim de ajustar a referida linha à realidade geográfica."
"Essas retificações serão efetuadas com a colaboração de representantes dos EUA, Argentina, Brasil e Chile."
É com base nesse ponto que o Peru deveria aceitar que a realidade geográfica é muito diferente do que acreditavam os países quando subscreveram o acordo.
Devido à falta de cartas geográficas precisas na época, acreditava-se que no trecho onde hoje estão ocorrendo os enfrentamentos não havia nada. Isso foi desmentido depois por um levantamento aerofotogramétrico pedido pelos dois países.
Acreditava-se que a divisão natural entre os rios Zamora, do lado equatoriano, e Santiago, do lado peruano, era a cordilheira do Condor e que entre eles havia uma distância não superior a 50 km.
Mas quando as fotografias foram reveladas, em 1947, descobriu-se que entre os dois rios havia outro —o Cenepa, cenário dos combates em andamento agora.
Além disso, a cordilheira do Condor não é mencionada em nenhum convênio anterior ou posterior ao Protocolo do Rio.
Há duas cordilheiras, uma de cada lado do rio Cenepa, de modo que parece justa a posição equatoriana de que a fronteira natural é esse rio. Afluente do Marañón, que por sua vez é tributário do Amazonas, ele sempre foi considerado um rio equatoriano.
Isso consagraria o direito do Equador a navegar pelo rio Amazonas, que o Peru desconhece.
O Protocolo do Rio afirma, no artigo 6º, que "o Equador gozará, para a navegação no Amazonas e seus afluentes setentrionais, das mesmas concessões de que gozam Brasil e Colômbia, mais aquelas que forem conveniadas num tratado de comércio e navegação".

Tradução de Clara Allain

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