São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Anistia coleciona relatos de violência contra estrangeiros

CARLOS ALBERTO IDOETA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As vítimas da violência do Estado não são apenas os habitantes de determinado país. A Anistia Internacional coleciona exemplos de atentados seletivos à integridade e à vida de estrangeiros.
Em países de latitude e história tão diferentes, hoje é arriscado ser imigrante, minoria étnica e até um simples turista.
Esclarecer responsabilidades por violações de direitos humanos é difícil e necessário. Mais gente precisa conhecer a verdade, que incomoda governos e grupos armados de oposição.
As denúncias devem ser investigadas, os acusados devem ser julgados, os culpados devem ser punidos sem exceção.
Na Argélia, entre as centenas de civis mortos pelos grupos armados islâmicos desde setembro de 1993 estão dezenas de estrangeiros.
Aos estrangeiros que conseguiram sobreviver, o GIA (Grupo Islâmico Armado) deu então um mês para que deixassem o país ou esperassem a morte.
As "sentenças" do GIA são divulgadas à imprensa, afixadas em muros ou enviadas aos próprios destinatários. Em geral, o texto dos documentos cita versos do Alcorão sobre os mortos. A execução do inimigo, mesmo aquele que é civil, é louvada.

Europa
A polícia espanhola espancou prisioneiros árabes sob sua custódia. Exemplo disso é o caso de um marroquino detido em Valência para uma aparentemente simples averiguação de identidade.
Dias depois da prisão, ele teve de remover um testículo em cirurgia de emergência.
Na vizinha França, os agentes da lei recorrem crescentemente a recursos como maus-tratos, armas de fogo e mesmo a morte em confronto.
As investigações indicam que a força bruta foi muitas vezes desproporcional à gravidade da situação. Entre os humilhados, feridos e mortos a Anistia encontrou elevada proporção de gente vinda da África, Maghreb e Oriente Médio.
Vários estrangeiros em processo de deportação do Reino Unido sofreram maus-tratos por parte da polícia e de seguranças privados. A jamaicana Joy Gardner, presa para ser deportada, foi sufocada até a morte.
A polícia búlgara espancou com cassetetes e cabos de rifle dúzias de macedônios que estavam em sua peregrinação pacífica ao monastério de Razhen.
Na Dinamarca, um relatório do parlamento apontou como vítimas da truculência policial Babading Fatty e Himid Hassan Juma, nomes não exatamente escandinavos.
Na Croácia, muçulmanos bósnios foram perseguidos pela polícia e civis sérvios foram executados pelo exército. Em áreas controladas pelos rebeldes sérvios, as vítimas foram os próprios croatas.
Shara Damkar, indiano, foi detido nos Emirados Árabes por suas atividades "antiislâmicas", isto é, a posse de publicações sobre a religião hinduísta. Sorte parecida tiveram um britânico e um iraniano, por seu proselitismo cristão.
Na "limpeza étnica" do Burundi, os hutus mataram os tutsis que mataram os butus. Só em 1993 foram centenas de milhares de vítimas.
O famoso Khmer Vermelho, ou Partido do Democrático Camboja, assassinou até membros da força de paz da ONU estacionada no Camboja.
Entre seus alvos está também a minoria vietnamita, da qual crianças foram feitas reféns e mortas.

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