São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 1995
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FHC reconhece não ter sido um 'bom professor'

WILLIAM FRANÇA
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA MARIA DA VITÓRIA (BA)

O professor universitário Fernando Henrique Cardoso, 63, se mostrou um fiasco ontem ao tentar dar aulas para um grupo de 34 crianças da 1ª à 4ª séries.
"Eu me dou nota sete, acho que eu não fui muito bom não", confessou FHC ao final da conversa com os alunos, que durou 20 minutos. "Fiquei preocupado. Não fui treinado para ser professor de 1º grau", disse o presidente.
FHC não conseguiu atrair a atenção dos alunos, usou frases complicadas e acabou não esclarecendo como funciona o governo: "O presidente é alguém que tem um conjunto de características específicas. Eu não posso fazer tudo o que eu quero. Ninguém pode fazer tudo o que quer", declarou.
O presidente foi a Santa Maria da Vitória (989 km de Salvador) para oficializar a abertura do ano letivo e lançar o programa "Acorda, Brasil, está na hora da escola", mas nem citou o slogan.
A preocupação de FHC ficou nítida na sala de aula. Pouco à vontade com os alunos, demorou a conseguir com que eles o olhassem. O próprio FHC constatou, por duas vezes, que as crianças estavam olhando mais para as câmeras de TV na sala do que para ele.
O presidente foi recebido com um sonoro "Bom dia, senhor presidente". Ele fez a chamada nominal dos alunos, perguntando a série e a idade. Das 35 crianças de 6 a 12 anos selecionadas pela escola, apenas uma faltou.
Todas estavam uniformizadas, com livros e cadernos novos, distribuídos momentos antes da chegada de FHC. Todas foram orientadas a apenas ouvir. Só um aluno ousou entregar um bilhete "com amor e com carinho" a ele.
FHC falou da importância do estudo e disse que frequentar a escola era necessário para aprender a ler, escrever e contar, "e para os rapazes respeitarem as moças e as moças respeitarem os rapazes".
Sempre lembrando que para ele era muito difícil estar ali na frente de crianças —"estou acostumado a só falar com gente grande"—, FHC tentou explicar aos alunos como funcionava o governo.
Quando já se preparava para sair, um cinegrafista pediu que ele escrevesse seu nome no quadro-negro. FHC teve dificuldades para encontrar o giz. Com a ajuda das crianças, se autodenominou "professor da escola" e também escreveu "muito obrigado".
Também pediu um "borrador" (um apagador) para corrigir um traço. As crianças abriram o caderno e copiaram o texto do quadro.
FHC despediu-se dizendo que queria que as crianças o visitassem no Palácio da Alvorada (não disse quando). Desejou "muito boa sorte" e pediu a ajuda de todos para que o Brasil "seja um país bom".
As crianças ouvidas após a aula demonstraram que não entenderam bem o que FHC disse: "Ele disse um bocado de coisa bonita, que ia mudar o Brasil. Com fé em nós a gente vai mudar", disse Iris, 11.

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