São Paulo, sexta-feira, 10 de fevereiro de 1995
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É preciso acabar com a violência no esporte

JOSÉ AFONSO DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A prática esportiva é estimulada pela Constituição como direito de cada um. Fomentá-la é dever do Estado. O esporte é um precioso meio de desenvolvimento da personalidade, do espírito associativo e da tolerância.
Quando, porém, as competições esportivas deixam o campo do natural entusiasmo para se transformarem num confronto de torcidas organizadas, podemos prever que o esporte começou sua autodestruição. Em vez de meio de desenvolvimento, tem-se então um modo perverso de tocaia urbana que atinge inocentes.
Se o esporte visa a caso de polícia, perde sua razão de ser. Quando as praças de esportes se transformam em área de segurança pública, a graça, a beleza e a alegria das competições esvaem-se no sangue de vítimas da violência premeditada, previamente organizada e preparada pela fabricação de bombas e outros artefatos para a destruição de vidas humanas. O encanto do futebol acaba na tristeza e no horror dos ônibus repletos de jovens alegres bombardeados à socapa.
O fenômeno está a requerer de todos nós, autoridades públicas, dirigentes de clubes e de federações, torcidas e comunidade em geral, uma reflexão madura da qual se possa extrair não só a paz nos campos, mas a preservação do esporte.
A Secretaria da Segurança Pública tem tomado medidas efetivas para coibir a violência nos estádios, não apenas com o reforço do policiamento ostensivo, também com o apoio da Polícia Judiciária para os casos de autuação em flagrante de violadores da ordem pública.
Muitas dificuldades são obstáculos para a eficácia da polícia: a deficiência de estrutura das instalações com risco à segurança física dos espectadores; a falta de controle da venda de ingressos adequada à capacidade, prejudicando as zonas de circulação interna e de evacuação, podendo levar a catástrofes como as registradas em outros países; a falta de equipamentos básicos de segurança, como os de combate a incêndio, pára-raios, sistema de sinalização interna e externa, saídas de emergência; ambulantes vendendo bebidas alcoólicas e alimentos de origem duvidosa, dificultando o trânsito dos torcedores e a evacuação dos estádios.
A PM, responsável pela segurança nos estádios, não tem poder sobre as condições de estrutura das massas de esportes nem lhe compete expedir alvarás para evitar as irregularidades mencionadas. O ônus da segurança pública dos estádios não tem contrapartida de participação de renda. Os PMs, em serviço, não recebem nem mesmo alimentação que corre por sua conta. Em outros países, os custos da segurança pública em eventos são remunerados com uma taxa em torno de 7% da arrecadação.
Estamos certos de que os dirigentes, os promotores de eventos, a torcida consciente, a comunidade esportiva em geral compartilham de nossas preocupações no sentido de buscar urgente solução para a violência. E, por certo, se sentarão à mesa conosco para conjuntamente encontrarmos o caminho da paz social perturbada por maus torcedores.

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