São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Câmara enfrenta dois dias de tumultos

DA REPORTAGEM LOCAL

A Câmara viveu ontem seu segundo dia consecutivo de tumulto. Enquanto na quinta-feira não houve confronto direto, ontem cerca de 3.000 servidores municipais (segundo cálculos da PM) e 200 policiais trocaram pauladas e pedradas com golpes de cassetete.
Pessoas chegaram a desmaiar e alguns manifestantes choraram. "Nós estamos apanhando da PM, isso que o prefeito está fazendo é uma vergonha", disse chorando Maria Cristina Martins, 42, professora municipal.
Ela é diretora do sindicato e ficou ontem 12 horas em frente à Câmara. Maria Cristina usava amarrada no braço uma fita vermelha. "É para identificar o comando do movimento."
Outra professora, Meire Marques, 45, vestia uma camiseta com a mensagem "Fora Maluf" e, como a maioria das pessoas, soprava um apito sem parar. "Precisamos nos fazer ouvir de alguma forma pelo governo."
Meire mora na Consolação (centro) e trabalha no Itaim Paulista (zona leste). "Pego trem, depois metrô e demoro uma hora para chegar ao trabalho. Ganho R$ 630,00 por mês", disse.
Eliane Aparecida, 34, diz ter levado golpes de cassetete na mão esquerda e na nuca. "Muitos servidores não vêm com medo da violência da Polícia Militar", disse ela, mostrando a mão inchada.

Barrados
Por ordem do presidente da Casa, Miguel Colasuonno, os manifestantes foram impedidos de entrar no prédio da Câmara.
Somente alguns dirigentes sindicais, respaldados em uma liminar da Justiça, tiveram acesso ao plenário.
Os funcionários ficaram em frente ao prédio. Por volta das 17h, deslocaram-se para a lateral da Câmara. Os vereadores do PT abriram as janelas para o barulho do carro de som atrapalhar a sessão. Mas Colasuonno decidiu prosseguir os trabalhos.
Por volta das 18h, os manifestantes voltaram para a frente do prédio. Arrancaram as cordas que isolavam o prédio. A PM recuou.
Por mais de uma hora, sindicalistas e policiais ficaram a menos de um metro. O capitão Rohrer estava tentando negociar o recuo dos manifestantes, quando começou a confusão. Os servidores começaram a atirar pedras e latas de cerveja e refrigerante nos policiais.
A situação só se normalizou quando os manifestantes souberam que a sessão tinha terminado e que o projeto que cancela os reajustes mensais não havia sido votado.

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