São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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48% dos abortos em Fortaleza são induzidos, aponta pesquisa

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA

Quase metade das mulheres atendidas por causa de abortos em hospitais de Fortaleza (CE) provocaram o aborto, apurou pesquisa feita pela médica Chizuru Misago. Foram 2.084 abortos provocados, num total de 4.359 pesquisados.
O índice de abortos provocados, de 48%, é mais que o dobro do resultado da pesquisa feita há dois anos, na qual os índices de indução de aborto ficaram em 22%.
Segundo o médico Walter Fonseca, que também coordenou o levantamento, o número é alto em comparação com dados semelhantes apurados em toda a América Latina, cerca de 20%.
Os dois médicos trabalham no Instituto da Saúde da Mulher e da Criança, em Fortaleza. Os dados foram colhidos entre outubro de 93 e setembro de 94 nos dois principais hospitais públicos da cidade —a maternidade-escola Assis Chateaubriand e o hospital César Cals.
A maioria das mulheres pesquisadas em Fortaleza (61,1%) não usou nenhum método de contracepção. 62% das mulheres eram solteiras ou não tinham parceiros estáveis. Destas, apenas 5,3% disseram usar camisinha. Cerca de 60% delas tinham menos de 24 anos e 23% eram adolescentes.
O método abortivo mais comum, num total de 66% dos casos, foi o uso do medicamento Cytotec. O remédio, indicado para tratamento de úlcera, provoca efeitos colaterais que levam ao aborto. Outros métodos usados foram injeções intramusculares, ingestão de ervas medicinais e a introdução de corpos estranhos no útero.
O aborto é crime previsto em lei, cuja pena varia de um a dez anos. Segundo os médicos, muitas vezes, a mulher que provoca o aborto não vai ao hospital porque teme ser presa ou maltratada.
Os médicos afirmam que não há este perigo. Nenhum profissional de saúde pode negar socorro e a ética médica garante sigilo total à paciente. "Em hipótese alguma a polícia fica sabendo", afirma o médico Jéfferson Drezett, coordenador do Centro de Referência da Saúde da Mulher de São Paulo.
drezett estima que 1,5 milhão de abortos sejam feitos anualmente no Brasil, a partir do cruzamento de dados do IBGE, Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.

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