São Paulo, sábado, 11 de fevereiro de 1995
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Capiba acha que MPB não tem futuro

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 14/05/95
Foi informado incorretamente o nome da canção "Olinda, Cidade Eterna", de Capiba, na reportagem sobre o disco de Raphael Rabello em homenagem ao compositor, à pág. 5-1 da Ilustrada de 11/2. Na mesma reportagem, o trecho que diz que o "frevo é um ritmo baseado no baião e na marcha, fundido com o maracatu e que recebeu a adição de metais" é uma declaração do violonista Raphael Rabello e deveria ter sido grafada entre aspas.
Capiba acha que MPB não tem futuro
Junto com Nélson Ferreira, Capiba é considerado um dos inventores do frevo —um ritmo baseado no baião e na marcha, fundido com o maracatu e que recebeu a adição de metais.
"Em termos de apelo popular, o frevo é o ritmo mais forte do mundo. Mais do que a salsa", diz Rabello.
O otimismo de Rabello não é compartilhado por Capiba. "O futuro do frevo não é bom e o da MPB também não", avalia.
"Frevo quase não existe mais. As estações de rádio pararam de tocar", diz. "E prefiro morrer a dar dinheiro às rádios para fazer sucesso."
Capiba acredita que o mercado fonográfico está ruim e restrito à música internacional. "Está uma decadência geral", atesta.
Além de alvejar ritmos estrangeiros, Capiba critica a música baiana. "A Bahia não tem música, a Bahia tem batucada. O Rio tem samba, Pernambuco tem frevo. A Bahia não tem nada", diz.
Para ele, o Carnaval acabou no Rio e o espetáculo das escolas de samba tem pouco a ver com o Carnaval. "Em São Paulo nunca teve." Ele conta que esteve em Miami no ano passado e ouviu muita música brasileira. "Aqui, nunca mais ouvi Chico Buarque ou Edu Lobo", reclama.
Seu senso musical aguçado vem de berço. Seu pai era mestre de banda de música e seus onze irmãos aprenderam cedo a tocar.
Foi pianista de cinema mudo, virou compositor, letrista, maestro e arranjador. Mas teve que ser funcionário público para ser artista nas horas vagas. Trabalhou por 30 anos no Banco do Brasil.
Hoje, Capiba continua ativo. Ainda compõe e bebe seu uísque. "Ainda não morri. Vou às festas e bailes", revela.
"A obra do Capiba é do tamanho da de Ary Barroso e Dorival Caymmi", diz Rabello.
O violonista tem esse projeto há mais de cinco anos. Mas demorou para concretizá-lo. "As grandes companhias não se interessam. É um trabalho de preservação da cultura artística."
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, coordenador da Ação pela Cidadania, soube do projeto em 92. "O disco vai ser uma beleza dupla, pela recuperação da obra do Capiba, cantado pelos maiores intérpretes da MPB, e pelo destino das verbas", diz.
Capiba está feliz com a homenagem, só reclama da não inclusão de Expedito Baracho —cantor recifense de sua predileção— no projeto. "Ele tem uma voz muito bonita", diz.
Mas isso não altera a tranquilidade de seus 90 anos e a falta de disposição para sair de casa e divulgar o disco. "Eu não promovo música minha, o povo é que promove". (Luiz Antônio Ryff)

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