São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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SIGNOS EM ROTAÇÃO

"A astrologia não pode ser entendida pelo ponto de vista da física. Ela é metafísica. A tese da inglesa erra, pois não distingue signos e constelações"
(Amâncio Friaça, astrônomo)
Há, de qualquer forma, quem vá além de Mitton. "Astrologia é superstição", diz Roberto Boczko, 47, astrônomo e doutor do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da USP, baseado sobretudo em observações que confirmam que não há mais correlação entre o signo de uma pessoa e a constelação onde está o Sol na hora em que ela nasce. "Quando a astrologia foi criada, na Antiguidade, o Sol entrava na constelação correspondente a cada signo no momento em que o mês do signo começava. Quando começava o mês de Áries, em 21 de março, o Sol estava entrando na constelação de Áries. Hoje, graças ao fenômeno da precessão, uma mudança no movimento solar, quando começa o mês de Áries, o Sol está na constelação de Peixes". Segundo Boczko, há mais: "O Sol passa por 14 constelações. Além de Áries, Gêmeos etc. há Ofiúco e Baleia."
Para Cláudia Hollander, propostas como a atribuída a Mitton e observações como a de Boczko não são novidade. "Volta e meia as pessoas querem mexer nessa tradição simbólica, que é milenar. A astrologia sideral, proposta no Brasil pelo compositor Carlos Lyra há anos, foi outro exemplo", diz. Vicki D'Orey, responsável pelo horóscopo da Revista da Folha, lembra-se de ouvir falar, há oito anos, do signo da Baleia —que, rezava uma proposta, deveria ser incluído no zodíaco em deferência à 14ª constelação da eclíptica, de existência comprovada.
"Vira e mexe aparece alguém falando que está tudo errado", confirma Amâncio Friaça, pesquisador no Royal Greenwich Observatory, Inglaterra, e astrônomo atípico: tem um pé no estudo das galáxias e outro no estudo da astrologia. O que diz só confirma Mitton. "A astrologia não pode ser compreendida pelo ponto de vista da física, mas sim da metafísica. Constelações e signos são coisas diferentes. É comum essa confusão. Ela corresponde à própria separação entre a astronomia e a astrologia, que só ocorreu no século 16".
"A Astronomia tem um problema edipiano com a astrologia, que é a mãe da astronomia", diz o astrólogo e psicólogo Oscar Quiroga —referindo-se a um tempo em que não haviam astrônomos ou astrólogos, apenas observadores do céu. "Qualquer iniciante em astrologia sabe que constelação é uma coisa e signo é outra". Segundo Quiroga, a diferença entre o zodíaco astronômico e o zodíaco astrológico é que o primeiro estuda "a constelação de objetos físicos, as estrelinhas que cintilam no céu", e o segundo "refere-se a um espaço virtual onde se movimentam os planetas do Sistema Solar". Para o astrólogo, é nesse espaço virtual de "pensamentos e emoções" que os seres humanos se movimentam a maior parte de seu tempo. Daí ser este, e não o céu em si, o espaço estudado pela astrologia.

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