São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Empresas devem se preparar para globalização

ALINE SORDILI
EDITORA DO TUDO

Qualidade total, formar pools para a realização de tarefas, redes de telecomunicações, parcerias e gerenciamento da qualidade. Esses são alguns dos requisitos básicos para as micro e pequenas empresas que não querem "sumir do mapa" no ano 2000.
Para especialistas consultados pela Folha, esse setor da economia, que movimenta 20,4% do PIB (Produto Interno Bruto), terá que se adaptar às regras da globalização de negócios para não ser atropelado.
Para Silvio Aparecido dos Santos, 43, professor do Departamento de Administração da FEA/USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo), as micro e pequenas empresas vão encontrar pela frente dois grandes movimentos: a abertura de mercado e o impacto da eficiência da concorrência.
"É preciso baixar custos e aumentar a qualidade e produtividade, para não ficar parado no meio do caminho", afirma ele.
Sua opinião é partilhada por Heitor Rangel de Carvalho Neto, 36, gerente da Ernest & Young. "Esse setor da economia está sendo pressionado para se adequar ao sistema de qualidade ISO 9000. As empresas terão que fazer o melhor produto pelo menor preço."
Carvalho Neto observa que só a certificação ISO não garante a continuidade dos projetos de qualidade. Para ele, é preciso ainda adotar o TQM (Qualidade Total do Gerenciamento).
Segundo dados internos da Ernest & Young, cerca de 20% das micro e pequenas empresas vão morrer até o ano 2000 —também estão incluídas nesse total as que serão criadas até lá.
"As micro e pequenas participam de forma desigual do mercado exportador, mas o processo de globalização é irreversível", diz Antonio Carlos Mattei, 33, consultor sênior da SGS do Brasil.
A competitividade tem de ser, na sua opinião, o principal ponto a ser alcançado. "Os grandes compradores procuram a alta escala de produção."
Para conseguir isso, as 3,5 milhões de micro e pequenas empresas brasileiras devem trabalhar com alta tecnologia e qualidade, ter baixo custo e baixo preço, se preocupar fundamentalmente com a administração e descentralizar o controle.
Isso, diz ele, acontece quando a empresa trabalha com uma grande margem de lucro, conhece seus custos, administra bem seus estoques, conhece o mercado consumidor e a capacidade de produção, além de investir na profissionalização de seus funcionários. "Os investimentos devem ser obtidos com recursos próprios, nunca recorrendo ao mercado financeiro."
Segundo Newton Arguello, 37, supervisor nacional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a utilização intensiva do capital e do trabalho deve ser o mandamento das pequenas e micro empresas.
Para que os empresários não "percam o bonde da história", Arguello recomenda a busca de novas atividades e um uso maior de máquinas e robótica (uso de robôs na linha de produção).
Segundo ele, o Brasil é um dos países da América Latina que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, aplicando cerca de 1% do PIB nessa área.
Segundo ele, esses problemas são mais graves nos países de Terceiro Mundo. "Os países industrializados têm mais condições de absorver e tirar proveito das mudanças que são colocadas à disposição das empresas tecnologicamente mais ágeis."
Às micro e pequenas, contudo, têm papel fundamental na geração de empregos. Segundo Arguello, elas são responsáveis por 59% dos empregos gerados no país.
Grande parte desse total provém do fornecimento de serviços de subcontratação industrial às grandes empresas, sejam elas multinacionais, nacionais ou estatais.

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