São Paulo, terça-feira, 14 de fevereiro de 1995 |
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Primeiro time da MPB revisita Edu Lobo
CARLOS CALADO
Sucessos de festivais dos anos 60, peças instrumentais e temas de trilhas sonoras para teatro e balé compõem o precioso álbum de canções de Edu, interpretado por um superelenco. Mais de cem artistas, entre cantores e músicos, representam vários setores da música brasileira —do hoje "mainstream" de Chico Buarque e Caetano Veloso ao pop de Ed Motta e Tim Maia, passando pelo instrumental de Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti ou os regionalismos de Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Gravado entre junho e dezembro do ano passado, o CD duplo do selo Lumiar traz 33 faixas. Duas delas, por um golpe do destino, somam um inesperado valor histórico ao álbum: pertencem às últimas sessões de gravação de Tom Jobim, morto em dezembro. É justamente o piano econômico do mestre da bossa que introduz a faixa inicial do "songbook": a lírica "Choro Bandido", cujos vocais ele divide com Chico Buarque. Mais discreto na delicada versão de "Valsa Brasileira", Jobim se restringe a acompanhar a cantora Leila Pinheiro, ao piano. Em meio a um elenco tão grande e eclético, o que mais surpreende é a homogeneidade do resultado final. Guardadas as diferenças de arranjos e estilos pessoais, nenhuma faixa chega a destoar radicalmente do conjunto. Ainda assim, algumas versões chamam atenção pelas liberdades que tomaram. Como a de Caetano Veloso, que em "Upa Neguinho" preferiu o avesso da eufórica gravação original de Elis Regina. Só com violão e um fio de voz, transformou-a em uma suave toada. Um procedimento semelhante utilizaram Ed Motta e o violonista Guinga, em "Bancarrota Blues", ritmicamente tratada como uma valsinha. O sotaque blueseiro ainda permanece, mas apenas nas inflexões vocais de Ed. Aliás, o despojamento sonoro é uma marca essencial em vários arranjos do álbum. Foi esse o tom escolhido para as emocionantes versões de "Canto Triste" e "Beatriz", que Gal Costa interpreta acompanhada só pelo violoncelo de Jaques Morelenbaum. Também nessa linha, Nana Caymmi canta "Pra Dizer Adeus", com toda a emoção necessária, num sensível diálogo com o violão de seu irmão Dori. Embora em pequena proporção, frente ao número de canções incluídas, o lado instrumental de Edu Lobo também está muito bem representado. Nada reverente, Egberto Gismonti revê "Zanzibar" usando somente teclados, batizados ironicamente de Orquestra Damla DÓrmac. Já o "bruxo" Hermeto Pascoal fecha o álbum com um delicioso arranjo de "Corrupião", misturando os sopros do Quinteto Villa-Lobos com muita percussão. Recriada por tantos e tão diferentes músicos, a obra de Edu Lobo prova assim ter sobrevivido aos intérpretes, estilos pessoais e momentos históricos. Já é clássica. Título: Songbook Edu Lobo Produção: Almir Chediak Elenco: Antonio Carlos Jobim, Caetano Veloso, Chico Buarque, Ed Motta, Gal Costa, Hermeto Pascoal, João Bosco, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Nelson Ayres, Ney Matogrosso, Tim Maia, Zizi Possi e outros Lançamento: Lumiar Formato: CD duplo Quanto: R$ 36 (em média) Texto Anterior: Dois livros contam a vida da Gertrud Stein Próximo Texto: A nação dos 5% Índice |
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