São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Aliados ou adversários

JANIO DE FREITAS

A divergência entre os ministros Pedro Malan e José Serra, em torno da reforma tributária que dê nova configuração à montanha de impostos, não tem a relevância que a natureza do jornalismo brasileiro lhe está dando. Reformas tributárias são complexas e, portanto, campo fértil para pontos de vista diferentes. Mas há uma peculiaridade naquela divergência: ambos têm razão.
A proposta de Malan daria maior racionalidade (talvez fosse melhor dizer alguma racionalidade) ao cipoal dos impostos, fundindo vários deles e alterando os modos de fazê-los chegar aos cofres do governo federal, dos Estados e municípios.
A objeção de Serra procede, porém: governadores e prefeitos mobilizariam as bancadas no Congresso para derrubar vários pontos da proposta de Malan, sobretudo o fim do ISS que ajuda a engordar os seus cofres. E também neste caso não se pode dizer que não tenham razão. Fazem o seu papel, defendendo recursos para suas regiões e suas administrações —ainda que a maioria dê mau destino aos recursos.
O que sobressai neste quadro é uma lição útil para os que, dentro e fora do governo, vivem atribuindo valor muito especial às alianças em torno de Fernando Henrique, aos "partidos do governo" e coisas que tais. O atual Congresso não mudou essencialmente, em comparação com o anterior. Nem poderia fazê-lo, dado que as características político-partidárias continuam as mesmas. As atuais circunstâncias políticas e parlamentares são, assim, extensões das vigentes desde o fim do regime militar.
Logo, cada proposta de reforma constitucional e cada projeto de lei motivará, em função de seu significado para as bases políticas dos parlamentares, uma disposição caso a caso por parte da maioria do Congresso. Sem que nisto tenha a menor importância se este ou aquele partido é considerado, ou não, "partido do governo" e coisas que tais.
Se o governo não levar esta realidade em consideração, não há reforma constitucional que saia do Congresso.

Rei posto
Por uns 20 anos, Antônio Carlos Magalhães exerceu influência absoluta na maior parte dos chamados grandes meios de comunicação, aí incluídos jornais, TVs e revistas. Seu confronto com o governo trouxe, nos últimos dias, uma novidade inesperada: Antônio Carlos não é mais o orientador das editorias de política, e mesmo direções, que o tinham como o grande chefe.
Sérgio Motta é o novo detentor do posto, que acumula, não por acaso, com o Ministério das Comunicações.

Dois assaltos
Vítima de assalto em que lhe tomaram o carro, ainda por cima a cidadã carioca passou a ser importunada em casa, por telefonemas em que os bandidos tentam lhe tomar dinheiro. Sugeri-lhe que pedisse a troca imediata do seu número de telefone.
Diante da emergência, a Telerj exigiu vários documentos e mais sete dias para a troca. Ou seja, tempo suficiente para os bandidos completarem a extorsão ou crime pior. E, para não informar o novo número a quem disque o anterior, a Telerj cobrou ainda R$ 39. Cobrança para não fazer um serviço. Ou seja, extorsão.
Penitencio-me de público por ter levado a vítima do primeiro assalto a sofrer outro, em dependências governamentais.

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