São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Vertov é destaque do centenário na Rússia

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O documentarista russo Dziga Vertov (1896- 1954) será o grande homenageado durante as celebrações do centenário do cinema na Rússia.
A primeira retrospectiva completa da revolucionária obra do diretor de "O Homem da Câmera" (1929), "Cinema-Verdade" (1922-25) e "Três Canções para Lênin" (1934) acontece em fevereiro do próximo ano no Museu de Cinema de Moscou. Na Rússia, o cinema só chegou em 1896, também o ano de nascimento de Dziga Vertov.
O próprio diretor do museu, Naum Kleiman, também responsável pelo Museu Eisenstein, adiantou para a Folha o programa russo para a efeméride.
Leia abaixo uma síntese do encontro, em Berlim.

Folha - Quando o cinema chegou à Rússia?
Naum Kleiman - Em 1896. Um representante dos irmãos Lumière foi o responsável, fazendo sessões e filmando curiosamente primeiro no interior e logo depois em Moscou. Mais tarde, a Pathé realizou lá alguns filmes.
As cópias desses filmes pareciam perdidas e agora estão resgatadas em Paris. Somente em 1908 foi rodado o primeiro filme russo de ficção.
Folha - Como ficam então as celebrações do centenário do cinema?
Kleiman - Começamos neste ano, para não ficarmos fora do contexto internacional, e as estenderemos até 1996. A mostra mais importante será a dedicada a Dziga Vertov, cujo centenário de nascimento coincidentemente também estará sendo completado.
O Arquivo de Documentários escalou pela primeira vez na história um crítico para pesquisar o material de Vertov. Será a única retrospectiva realmente completa. Estão reconstituindo documentários perdidos e descobriram um filme de 1944 sobre o qual não havia qualquer registro. Será uma revelação até para nós.
Folha - E para este ano, o que já está programado?
Kleiman - Abrimos em janeiro a celebração com um ciclo Eisenstein. Fazemos agora uma mostra dedicada a Robert Flaherty e no decorrer do ano haverá uma retrospectiva Renoir.
Fundamental vai ser o ciclo John Ford no segundo semestre. Ford é um desconhecido para os russos. Até hoje, só dois de seus filmes, "No Tempo das Diligências" (Stagecoach) e "Paixão de Fortes" (My Darling Clementine), foram exibidos. Eisenstein só pôde escrever sobre ele porque esteve no México e nos EUA.
Folha - Algo novo sobre o diretor Sergei Eisenstein foi editado recentemente?
Kleiman - São tempos difíceis para livros na Rússia. Mas, sim, está sendo publicado um volume inédito com as cartas de Eisenstein para a mãe, nos anos 10 e 20.
Se for bem, esperamos ir adiante nas publicações e lançar uma seleção da correspondência com seus amigos.
Folha - A abertura cultural na Rússia revelou ou reavaliou alguém?
Kleiman - A obra em animação com agulhas de Alexandre Alexeieff (1901-1982), integralmente desenvolvida em seu exílio em Paris, merece em julho a primeira mostra em Moscou.
O caso mais importante, porém, me parece o de Boris Barnet (1902-1965).
Depois das pesquisas recentes, não tenho mais dúvida que ele forma, com Eisenstein e Vertov, o trio máximo. Ao contrário dos outros dois, Barnet era um "bon vivant", um cineasta de inspiração e nada reflexivo.
Seus filmes de suspense do tempo da guerra são originalíssimos. O primeiro estudo amplo de sua obra está sendo finalizado agora pelo crítico francês Bernard Eishenschitz.

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