São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Peru anuncia cessar-fogo e Equador aceita

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um cessar-fogo entre as forças militares de Peru e Equador entrou em vigor ontem às 12h (15h em Brasília). Aparentemente não houve combates durante todo o dia na região de fronteira disputada pelos dois países.
A situação, porém, é confusa. Os dois lados afirmam controlar os postos militares na região e trocam acusações de novas operações militares (veja texto abaixo).
A trégua foi anunciada na noite de anteontem pelo presidente peruano, Alberto Fujimori, e aceita na manhã de ontem por seu colega equatoriano, Sixto Durán-Ballén.
"Desde o amanhecer não há atividades bélicas", disse o coronel equatoriano José Grijalba no Comando de Operações na Selva em Patuca, na cordilheira do Condor.
Ele fez essa declaração às 12h20 (hora local), 20 minutos após a vigência oficial da trégua.
Fujimori estava reunido com o Conselho de Defesa Nacional do Peru no momento em que o cessar-fogo entrou em vigor. Em seguida ele se juntou a uma manifestação na Plaza de Armas, diante do palácio do governo em Lima, em que centenas de pessoas comemoravam a "vitória" no conflito.
O anúncio da trégua foi feito às 21h (0h de hoje em Brasília) pelo Ministério das Relações Exteriores. Uma hora depois, Fujimori transmitiu a notícia aos peruanos em rede nacional de rádio e TV.
Em Quito, Durán-Ballén reuniu imediatamente o Conselho de Defesa Nacional do Equador e a aceitação do cessar-fogo foi anunciada às 23h25 (2h25 em Brasília).
Meia hora antes disso, representantes dos quatro países avalistas do Protocolo do Rio, de 1942, haviam suspendido mais uma rodada de negociações de paz.
Diplomatas de Brasil, EUA, Argentina e Chile voltaram a reunir-se no Itamaraty ontem às 12h30, para discutir o envio de observadores à região do conflito para verificar o cumprimento da trégua (leia texto ao lado).
À noite, Fujimori permanecia reunido em Lima com o Conselho de Segurança Nacional. O Peru está enviando missões de diplomatas, acadêmicos e jornalistas a vários países, entr eles o Brasil, para explicar a posição de seu país.
As autoridades peruanas avaliam que o Equador se saiu melhor na "guerra das informações" desde o início do conflito, especialmente por permitir o acesso de jornalistas estrangeiros à área dos combates.
Em Buenos Aires, o ex-presidente colombiano e secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, se disse "esperançado" quanto ao cessar-fogo, mas ressalvou que é necessário alcançar uma solução definitiva para a disputa de fronteiras entre os dois países.
As divergências remontam ao tempo em que Peru e Equador conquistaram sua independência em relação à Espanha, no século 19. O Equador sempre reivindicou acesso à bacia do Amazonas, que se daria pelo rio Marañon, do qual o Cenepas é tributário.
Os dois países travaram uma guerra por esse território em 1941 e um ano depois foi assinado o Protocolo do Rio, avalizado por Brasil, EUA, Argentina e Chile.
O Equador denunciou o acordo em 1960, alegando que em 1942 não se sabia da existência do rio Cenepa, o que tornaria necessária uma nova demarcação das fronteiras na região da cordilheira do Condor.
Vários analistas acreditam que tanto Fujimori, que disputa a reeleição nos próximos meses, quanto Durán-Ballén, que tem enfrentado dificuldades para implantar seu programa de governo neoliberal no Congresso equatoriano, tiveram interesse em estender o conflito para desviar a opinião pública de seus países.

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