São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 1995
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Previdência sem demagogia; Atribuições do ombudsman; Polêmica das ONGs; Ensino elitizante; "Don Juan"

Previdência sem demagogia

"O editorial 'Futuro à venda', publicado na edição de 13/02 da Folha, observa com propriedade as razões fundamentais para a reforma da Previdência Social. O país tem a última oportunidade de reformá-la neste século, preparando-a para as gerações futuras. A Previdência enfrentou 20 crises nos últimos 40 anos, uma crise a cada dois anos. O mais grave é que a Previdência tornou-se espólio de um grupo de brasileiros em detrimento da ampla maioria. Nenhum pobre neste país se aposenta por tempo de serviço, mas por idade. Resultado objetivo: trabalhando por mais tempo; os pobres financiam os benefícios dos que se aposentam mais cedo. O presidente Fernando Henrique Cardoso tem demonstrado coragem para construir uma nova Previdência, distanciada do assistencialismo e da demagogia."
Reinhold Stephanes, ministro da Previdência e Assistência Social (Brasília, DF)

Atribuições do ombudsman

"O sr. Marcelo Leite é um homem preconceituoso, isso é evidente, e essa má qualidade o levou a exorbitar das suas funções e praticar uma grande injustiça. Li e reli, na própria Folha, no mesmo dia 12, as atribuições do ombusdsman, e entre elas não está a de analisar, qualificar ou adjetivar, ao seu bom ou péssimo gosto, as pessoas, como fez comigo, distorcendo fatos. Ao ombudsman cabe, de acordo com a Folha, 'criticar o jornal sob a perspectiva do leitor —recebendo e checando as reclamações que ele encaminha à Redação— e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação'. Nenhuma referência, portanto, a agressões levianas como as da sua última coluna, tentando fazer graça. Não lhe cabe também, ao que me parece, fazer análise política, muito menos fora do contexto do que foi publicado por toda a imprensa. O sr. Marcelo Leite disse que esperei o presidente sair da Bahia para criticá-lo. Não é verdade. Se houve crítica em pedir um salário mínimo de R$ 100, isto foi feito antes da chegada do presidente a Santa Maria da Vitória, conforme está publicado em todos os jornais da última sexta-feira —inclusive na Folha. Peço ao ombudsman —pois creio que está entre as suas tarefas— que me faça a gentileza de ler, na própria Folha, na edição do último domingo, uma longa entrevista que concedi à repórter Flávia de Leon. O texto está correto, a repórter reproduziu fielmente o que eu disse, mas o título em oito colunas da página em que foi publicada a entrevista não corresponde ao texto. Não sei se a culpa é da Folha (minha é que não é), mas em 40 dias fui manchete do jornal, com título em oito colunas, três vezes. O ombudsman não reclamou nenhuma vez. Agora não vale mais..."
Antônio Carlos Magalhães, senador pelo PFL-BA (Salvador, BA)

Resposta do ombudsman Marcelo Leite — Repudio a tentativa do senador de cercear minha liberdade de expressão, hábito que deve ter adquirido em sua longa intimidade com governos autoritários. Quanto a suas objeções factuais: 1. A Folha errou ao noticiar que as críticas ao presidente da República foram feitas depois da saída deste da cidade de Santa Maria da Vitória (ver Erramos abaixo); 2. reli o título da entrevista, 'FHC deve aprender a presidir, diz ACM', e concluo que ele é essencialmente correto (ainda que o senador não tenha pronunciado o verbo 'presidir').

Polêmica das ONGs

"Os dois artigos publicados na Folha pelo embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima têm recebido interpretações errôneas, que precisam ser definitivamente esclarecidas. Em nenhum momento aquele diplomata questionou a validade do trabalho das ONGs em prol dos direitos humanos. Tampouco propugnou a interrupção do diálogo, tão proveitoso para o povo brasileiro, que o governo —ele próprio inclusive— vem mantendo com todos os setores e entidades interessadas na causa dos direitos humanos. Sua reação deveu-se apenas a alguns excessos verbais que essas meritórias organizações às vezes emitem, o que não deixam de chocar a todos os que, como ele ou como eu, trabalham lá fora pelo Brasil, dando o melhor de si. Mais importante do que alimentar a polêmica em torno de algumas colocações mal-interpretadas seria recordar o papel de Paulo Tarso na inserção do Brasil no sistema internacional de proteção aos direitos humanos. Foi na sua gestão à frente da Secretaria Geral do Itamaraty que o Brasil aderiu às Convenções contra a Tortura, da ONU e da OEA, assim como foi sob sua orientação que o Executivo encaminhou ao Congresso Nacional, em 1985, a proposta de adesão aos dois grandes pactos internacionais de direitos humanos: o de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. O Brasil enviou à ONU em novembro do ano passado seu primeiro relatório concernente ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. A versão em português, recém-publicada e amplamente divulgada, é passo importante para o cumprimento de nossas obrigações nessa esfera, obrigações contraídas por proposta de Paulo Tarso. Tratemos pois de superar divergências adjetivas. O governo brasileiro mantém e continuará a aprofundar o diálogo franco e construtivo com as ONGs. Até porque sabe que elas, como ele, visam ao mesmo objetivo: a melhoria da situação dos direitos humanos no país. E Paulo Tarso continuará a trabalhar, como sempre o fez, com dedicação e eficiência, para essa causa comum a todos os brasileiros de boa-fé."
J. A. Lindgren Alves, chefe da Divisão das Nações Unidas do Ministério das Relações Exteriores (Brasília, DF)

Ensino elitizante

"Os dois artigos da seção Tendências/Debates de 6/02 —'O fim dos vestibulares', de Rubem Alves, e 'O Governo não passou no vestibular', de Fernando Gusmão— são bastante ilustrativos e lúcidos sobre nossa realidade do ensino. Continuando a leitura, deparo com outro artigo, agora de José Geraldo Couto, 'Faltam livros para se entender o governo'. Aí uma grande perplexidade tomou conta de mim. Como baixar as prateleiras das bibliotecas para entender o governo se a proposta do ministro da Educação está se mostrando mais uma vez elitizante?"
Maria Cecília Puntel de Almeida, professora titular da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto, SP)

"Don Juan"

"A reação do público ante a peça 'Don Juan', no sábado, só serviu para confirmar um fato que todos já conhecem: o público só vai em massa ao teatro para ver atores globais. Ora, em outras montagens de Gerald Thomas, nunca vi a sala do Sesc Pompéia tão lotada como a do Tuca desta vez (a sala do Tuca é pelo menos o dobro do tamanho da do Sesc Pompéia). É uma vergonha que tenhamos um público tão burro, que vai ao teatro sem ter noção do que vai assistir. Qualquer pessoa que tenha ao menos ouvido falar em Gerald Thomas não se surpreenderia com nada do que visse. Foi uma verdadeira demonstração de falta de respeito com o trabalho alheio. Haviam pessoas expondo-se no palco e, quer se goste ou não, o mínimo que se deve fazer é assistir em silêncio até o fim."
Isadora Malouf Zero Sarhan Salomão (São Paulo, SP)

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