São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A privatização das ferrovias

PAULO CESAR GRANJA

As ferrovias no Brasil sempre atenderam aos interesses do capital internacional para exportação de produtos primários. Em 1957, as estradas de ferro foram unificadas numa única empresa estatal, a Rede Ferroviária Federal S/A, deixando apenas de incorporar a Ferrovias Paulistas S/A e a Vitória Minas.
Faltou, porém, ao governo estabelecer uma política nacional de transporte capaz de implementar um modelo onde a ferrovia e a hidrovia atuassem como modelo troncal, dada a alta capacidade de transporte desses modais e seu baixo custo global, deixando o transporte rodoviário como alimentador da rede troncal básica ou como transporte complementar.
Os esforços e recursos do governo voltaram-se para o setor rodoviário, levando à estagnação dos setores ferroviário e hidroviário. Enquanto a tarifa do transporte ferroviário ficou contida durante longo tempo por imposição de regulamentos, a tarifa do transporte rodoviário tem liberdade para sua definição e aplicação.
Há três consequências da prática da tarifa ferroviária abaixo de seu justo valor. Primeiro: a RFFSA tem sido obrigada a postergar parte da manutenção de seus sistemas fixos e do material rodante, contribuindo para o sucateamento de seu patrimônio, de seus sistemas e de sua frota de locomotivas e vagões.
Segundo: o pagamento de salários de seus empregados estão bem abaixo do mercado, principalmente para os profissionais de nível técnico e superior.
Terceiro: as condições de trabalho também são comprometidas, faltando ferramentas, peças de reposição, materiais de proteção individual e coletiva.
Apesar disso, a Rede Ferroviária Federal S/A reduziu seus custos, ampliou sua produtividade e produção, ainda muito aquém de sua capacidade.
Os aproveitadores de plantão misturam informações e confundem a opinião pública para justificar a inclusão da RFFSA no Programa Nacional de Desestatização. A privatização da RFFSA distanciará cada vez mais a possibilidade de a ferrovia ser utilizada como meio de transporte troncal e integrador das diversas regiões do país.
Os benefícios da privatização do setor serão repartidos entre os futuros concessionários dos diversos trechos da malha ferroviária.
Com política adequada, a RFFSA pode cumprir seu papel e atribuições, a serviço da sociedade, contribuindo para diminuir o déficit público e colocando o país nos trilhos do desenvolvimento econômico e social.

PAULO CESAR NAYFELD GRANJA, 44, é engenheiro da Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Foi presidente da Associação dos Engenheiros da Rede Ferroviária Federal S/A (1990-92) e diretor do Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro.

Texto Anterior: Juiz inocentado de acusação de fraude se mata
Próximo Texto: Três morrem em tentativa de sequestro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.