São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 1995
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Prefeito troca verba por laqueadura, diz hospital

AMAURY RIBEIRO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O prefeito do município de Montalvânia, a 916 km a oeste de Belo Horizonte (MG), Laurindo Belém Ferreira, propôs ao único hospital da cidade, o Cristo Rei, que realize dez laqueaduras de trompas gratuitas por mês para esterilizar mulheres pobres. Em troca, receberia ajuda financeira.
Segundo a proposta de Ferreira (PFL), as laqueaduras seriam pagas pelo governo por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A lei nº 32.68, de 1958, que criou os conselhos regionais de medicina, em seus artigos 43 e 58, considera ilegal a prática da laqueadura. Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas, João Gomes Soares, a operação só é permita em casos em que há risco de vida para a paciente.
A proposta foi encaminhada pelo secretário da Saúde de Montalvânia, João Batista Ferreira Braga, ao conselho administrativo da fun dação do hospital. Em troca das laqueaduras, a prefeitura se comprometeria a conceder ao hospital três auxiliares de saúde e a repassar dez salários mínimos para a contratação de um médico. A prefeitura se compromete ainda, segundo a proposta, a conceder ao hospital o material de cirurgia a ser utilizado nas laqueaduras. O presidente do conselho administrativo do hospital, João de Paiva Cintra, recusou a proposta e denunciou o fato ao Conselho Federal de Medicina. Segundo Cintra, o prefeito tenta dificultar o trabalho do hospital. "Ele vem atrasando o repasse de recursos do SUS para levar o hospital à falência."
Segundo Braga, a proposta está sendo deturpada. "As laqueaduras seguiriam um programa de planejamento rígido." Ele acusa o hospital de ter feito 200 laqueaduras no período de eleições. "O hospital está esterilizando até mulheres de 18 anos e agora vem com esse discurso moralista."
Cintra confirmou que o hospital tem feito laqueaduras, mas nega que tenha obtido benefício político. "As laqueaduras, nos casos gerais, são feitas no setor particular do hospital. Através do SUS só fazemos quando há risco de vida."

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