São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Itamar promoveu festival de concessões

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

As edições do Diário Oficial da União dos últimos cinco dias da gestão Itamar Franco mostram que o Ministério das Comunicações fez um festival de concessões para serviços de telecomunicação antes de transferir o comando para o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Foram dadas concessões para três tipos de serviço: trunking (telefonia móvel voltada para empresas), radiochamada (também conhecido como pager ou página, que é o serviço de mensagem que sucedeu os antigos bips) e para uma nova tecnologia de transmissão de TV chamada LMDS, que ainda está em testes nos EUA.
O LMDS não está em uso comercial nem mesmo nos Estados Unidos mas dez empresas foram autorizadas a testá-la no Brasil.
Esse sistema presta-se não só à transmissão de TV por assinatura, mas à telefonia e transmissão de dados, que serão abertos ao setor privado, se o Congresso aprovar o fim do monopólio estatal.

Grande negócio
Entre as outras cinco, há empresas pequenas e completamente desconhecidas. Uma delas é a LMP Consultoria e Representações, autorizada a testar a novíssima tecnologia do LMDS em São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Belo Horizonte, Betim, Contagem e Curitiba. Cada concessão corresponde a uma cidade.
A empresa foi registrada em maio do ano passado pelo mineiro Luiz Mário Pádua, que em 1991 apareceu no noticiário por um suposto namoro com a ex-primeira dama Rosane Collor.
Nesta época, ele era chefe do cerimonial do governo do Distrito Federal, por indicação do ex-governador José Aparecido de Oliveira, amigo de Itamar.
No dia 30 de dezembro de 94, a LMP ganhou permissão, por 15 anos, para explorar os pagers em 34 cidades, entre elas São Paulo, Goiânia e Salvador.
A empresa de Luiz Mário, que obteve ao todo 41 concessões do governo federal, foi registrada com um capital de CR$ 4 milhões (cerca de R$3 mil), com o endereço da casa dos pais do ex-chefe de cerimonial, em Belo Horizonte.
Segundo informações do mercado, para se implantar a radiochamada em São Paulo é preciso investir pelo menos R$ 3 milhões (mil vezes o capital da LMP).

Contradição
O ex-ministro Djalma Morais, que autorizou as permissões, disse à Folha que conheceu Luiz Mário Pádua, há cerca de quatro anos, através de José Aparecido.
Morais disse que conversou com Luiz Mário antes de assinar as permissões e que ele estaria associado a uma empresa americana.
O dono da LMP disse à Folha que só conhecia o ex-ministro pelos jornais. Afirmou que três empresas americanas lhe garantiram acesso à tecnologia do LMDS mas que não possui sócios, nem cogita vender as concessões.
A disputa pelas concessões e a avalanche de portarias publicadas no final do governo pode ser explicada em cifras.
O trunking atende 2,3 milhões de usuários só nos EUA. No Brasil, estima-se que poderá gerar um faturamento anual de R$ 1,28 bilhão a partir do ano 2000.
A radiochamada é usada por 18 milhões de americanos. Estima-se que 2 milhões de brasileiros em três anos poderão usar o serviço, o que daria um faturamento de R$ 510 milhões por ano ao mercado.
No final do governo Itamar, o Ministério das Comunicações também lançou 21 editais para rádio e TV, que foram anulados pelo atual ministro, Sérgio Motta, junto com outros 132 editais remanescentes dos governos Sarney e Collor.
Esses editais foram cancelados porque os processos não tinham sido concluídos. As concessões de trunking, pagers e LMDS, já assinadas e publicadas no Diário Oficial, continuam em vigor.

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