São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995 |
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'Zumbi branco' foi insultado
AURELIANO BIANCARELLI
Naquele ano, os movimentos negros de todo o país comemoravam o projeto do Memorial Zumbi dos Palmares. Centenas de ônibus foram de vários Estados, a maioria da Bahia. Para receber os visitantes, as escolas prepararam um desfile onde se representava a conquista dos Palmares. Como não havia negros em número suficiente, os estudantes foram pintados com carvão moído misturado com óleo de cozinha. Domingos Jorge Velho, um dos destruídores dos Palmares, desfilou a cavalo. Mucamas pintadas se apresentavam de turbantes e saia rodada. Meninos brancos puxavam "escravos" acorrentados. Zumbi, também lambuzado de óleo e carvão, empunhava a lança. "Foi quando os negros atacaram", lembra José Genival da Silva, hoje com 35 anos. "Os alunos foram retirados dos cavalos, empurrados de um lado para outro, eu fugi em disparada." Silva, um mulato, na época com 23 anos, representava Zumbi. "Eu desconfiava que essa história de pintar branco ia dar errado." Segurança de banco, Silva está desempregado há um ano e meio. Moradores contam que os visitantes invadiram bares, saquearam barracas de feira, fumaram maconha e dormiram nos bancos da praça com suas namoradas. O prefeito da época, o atual vice-governador Manoel Gomes de Barros, pediu ajuda policial de Maceió e das cidades vizinhas. "Era apenas uma representação da nossa história", diz o professor Francisco Viana Neto, 42, diretor do colégio Santa Maria Madalena, o maior da cidade. "As comunidades negras não entenderam." Os moradores preferiram se acautelar. Nas festas dos anos seguintes, o comércio fechou as portas e foi pedido reforço policial por antecipação. Só a partir de 91, a cidade voltou a conviver pacificamente com as caravanas de negros que iam visitar Zumbi. (AB) Texto Anterior: Moradores indicam herdeiro Próximo Texto: Caso envolve tráfico e gravações secretas Índice |
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