São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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A grande decepção

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O humor do mercado financeiro anda péssimo. No Brasil e no exterior. Alguns operadores ainda mantém a linha e fazem seus desabafos entre quatro paredes. Outros, como um ex-presidente da Bovespa, já demonstram seu mau humor publicamente. Também, não é para menos. Os prejuízos contabilizados no mercado de ações são expressivos.
Em entrevista coletiva à imprensa, na última quinta-feira, o presidente FHC avançou bastante na definição dos rumos de sua reforma da economia. Principalmente na visão que ele tem do papel do Estado como órgão regulador e produtor de bens e serviços.
Com isso, deixou claros os marcos do processo de privatização das estatais, principalmente as dos setores elétricos e de telecomunicações. Mexeu no bolso dos investidores, que acreditavam em um processo semelhante ao da Argentina e México. A venda pura e simples das empresas do governo para o setor privado. Aliás, como foi a privatização das empresas do setor siderúrgico.
O mal-estar atual dos mercados financeiros tem sua origem mais profunda no colapso da economia mexicana. O México representava tudo o que os mercados financeiros globais cultuam. Liberdade total no movimento de capitais, privatizações de empresas estatais e pouco governo. Hoje, sobraram prejuízos, incertezas e uma economia em frangalhos.
Quando Fernando Henrique foi eleito, o mercado apostou que o Brasil seguiria de perto o script mexicano. Os adversários eleitorais de nosso presidente contribuíram para isto ao acusarem-no de neoliberal.
Faltou, entretanto, um pouco de profundidade aos analistas para entender a guinada ideológica de nosso presidente. E o que representa ser social-democrata nesta virada de século em um país como o Brasil.
Quando da formação do governo e na identificação de seu núcleo central de poder, os analistas cometeram seu segundo erro. E continuaram apostando no modelo mexicano.
Agora, um terceiro erro de avaliação pode estar sendo cometido. Os mercados, prejudicados pelo seu pessimismo cego, podem estar perdendo uma mudança fundamental na estrutura do sistema econômico de nosso país.

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